Saturday, August 11, 2007

A GRANDE FARRA

A semana que decorreu foi fértil em acontecimentos ao nível de decisões governativas que me levam a acreditar que, em apenas cinco dias úteis, seria impossível um conjunto de pessoas tomarem tantas decisões que levam a acreditar que a frase dos celebérrimos livros do Asterix deve estar na moda e que refere “Estes Romanos/Governantes devem estar loucos!”
Primeiro é a decisão - que assumo Carlos César deve considerar que é muito oportuna e coerente, pois caso contrário não se lembraria de tal e nem a apresentaria por vergonha – de levar ao parlamento regional a possibilidade dos reformados da função pública tornarem a exercer, na mesma, uma actividade remunerada.
Na realidade e ao contrário do seu padrinho, José Sócrates que tenta “encurtar” os efectivos da função pública, Carlos César quer possibilitar que os reformados calculo que regionais, possivelmente com provas dadas, mas não se sabendo onde e como, venham a “trabalhar” na mesma função pública.
Deduzo eu que esta será mais uma maneira “encapotada” de pagar serviços passados prestados no âmbito da politica e mais uma vez, à sobra de uma democracia de sabor parlamentar maioritário e sobremaneira musculada, contribuir para maiores custos no orçamento e impossibilitar que tantos jovens, que se encontram ávidos de mostrar o que valem e que podem contribuir para o desenvolvimento sustentado regional de modo mais actual, venham a ser preteridos em favor de outros, que pese embora tenham saber acumulado, muitas vezes têm perspectivas/métodos de trabalho já ultrapassados.
Não mereceram os jovens o direito de provarem que conseguem, tal como fizeram a seu tempo os reformados que César quer favorecer, ser óptimos profissionais que contribuirão para o enriquecimento futuro da Região.
Será que César se esqueceu que a alteração que se veio a verificar na idade de reforma na função pública originou uma autêntica “brigada de reumático” cheia de anos de defeitos ao nível de comportamento profissional e social, dando agora origem a uma segunda “brigada de reumático” constituída por privilegiados que possivelmente desempenharam ou mesmo desempenham actividades politico-patidárias, que os elege directamente para serem classificados como reformados/activos.
Já nada me surpreende, muito menos depois de ver que em politica existem lugares públicos e cargos “talhados” a rigor para seguidores e gente de língua de fora cuja função é dizer “sim” e “lamber botas” sem bastas vezes terem qualquer tipo de atributo, quanto mais profissional, para ocuparem lugares que por direito de qualidade deveriam ser de outros.
Pobre democracia que, de lhe ser possibilitada a existência como maioria absoluta, é tão mal tratada e vilipendiada.
Por outro lado fomos confrontados esta semana com uma decisão - que assumo ser fundamental para o desenvolvimento sustentado da Região, a qual infelizmente alguns governantes parecem querer transformar em couto privado de caça – e que teve origem no secretário regional da agricultura e florestas de conceder um subsídio a fundo perdido – leia-se “nunca mais tal dinheirinho vai entrar nos “cofres” regionais – a um clube de basquetebol da ilha Terceira, no valor de 100 mil euros.
Justificando a importância de tal decisão o governante é peremptório afirmando que o clube irá por este meio “realizar uma campanha de promoção dos produtos agro-alimentares regionais”.
Boa!! Suponho que esta promoção será a nível do País e custa-me a identificar quais são os produtos regionais que irão ser promovidos e mais me custa admitir que estes existirão em qualidade e/ou quantidade para serem promovidos.
A partir de agora não se admirem de ver que o clube terceirense de basquetebol passe a jogar com uma melancia regional, em vez de bola, e a usar um caixote da tetrapack de leite meio-gordo regional, em vez de camisola.
Gradualmente o ridículo vai atingindo todos os membros do executivo, sempre…mas sempre tendo por suporte a maioria absoluta que tudo permite, nomeadamente que nós os cidadãos nos permitamos rir de ver como nos querem fazer passar por tolos, mas não conseguem.
Só que a politica já cansa de tal maneira – ainda mais com decisões deste tipo – que já nem conseguimos reagir a decisões tão importantes.
Resta acrescentar que o subsídio agora atribuído junta-se a outros que os clubes desportivos, que representam a Região em competições nacionais, têm direito e que se encontra devidamente regulamentado, sendo que para tal devem usar a marca Açores nas camisolas.
Duplo subsidio para uma dupla promoção regional feita pelos mesmos intervenientes?
Um outro caso tem a ver com o insucesso escolar.
Também esta semana foi assunto “quente” a recuperação que se fez sentir nos últimos dois anos no que respeita ao insucesso escolar, cuja taxa passou de cerca de trinta para nove porcento.
Cada vez mais considero que existem pessoas que pensam de noite, executam de dia e a obra realiza-se.
De tanto pensarem e apregoarem que fazem até acreditam que ela se realizou e de repetirem tanto o que todos sabemos não ser verdade, acreditam serem excepção à regra dos humanos e que realizam “obra”.
Olham-se ao espelho e nem acreditam no que vêm.
Por isso insistem, por isso deturpam e admitindo critérios, que mais ninguém consegue compreender, afirmam que estamos melhores posicionados a nível nacional e comunitário e criando uma mancha negra lá vão afirmando que os nossos alunos estão mais qualificados em conhecimento académico e que o consequente insucesso escolar está a “ir por água a baixo”.
Pobre de quem não vê e como se usa dizer entre nós portugueses “mais cego é aquele que não quer ver”, pois tapar o sol com a peneira não invalida que este nos continue a atingir.
Embora de certo muitos outros casos existam, fiquei bastante “feliz” por saber que as minhas contribuições anuais para o chamado banco alimentar se podem transformar numa autêntica “mistela” que é posteriormente atribuída a quem carece de alimentos.
Como é possível, a ser verdade e acredito que o seja, que famílias a quem foram atribuídos alimentos os recebam deteriorados e que quem os irá consumir, nomeadamente crianças de tenra idade, estejam sujeitas a irem parar aos hospitais porque os mesmos não se encontram em condições de serem consumidos?
Se não existem locais para armazenar os produtos nas devidas condições, o governo tem a obrigação de os criar – nem mesmo que o secretário regional da agricultura tenha de dar um subsidio à presidência do governo, em vez de o dar ao Lusitânia – pois a enorme quantidade de produtos recolhidos resulta na sua grande maioria de sacrifícios de uma população, principalmente de classe média, já de muito sacrificada com impostos e que não vendo resultados positivos das suas generosas e abnegadas acções, pode muito bem deixar de as fazer.
Até porque, quanto a mim, é ao Estado e neste caso mais directo ao governo regional que cabe a obrigação de criara condições para que os mais necessitados tenham os mínimos de condições de vida, claro que tudo isto tendo por base o dinheiro contributivo recebido dos cidadãos.
Incrível como a bagunça é tão grande e a grande farra se acentua ao passar do tempo!
In Correio dos Açores

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