Saturday, August 11, 2007

FILOSOCRATICES

O nosso primeiro-ministro, José Sócrates, mostrando a afinidade que tem em termos intelectuais com o filósofo e pensador Sócrates – o da antiguidade e que vem de longa data nos manuais pelos quais muitos de nós estudamos – apresentou-se em público e indicou como sectores fundamentais ao desenvolvimento do nosso país, o turismo e a energia.
Facto que até parecia a grande maioria dos portugueses desconhecer e que se tornou uma realidade porque teve origem em Sócrates.
Extraordinário como estes dois sectores de actividade se tornam peças fundamentais para o desenvolvimento só porque o nosso primeiro-ministro referiu serem as bases do nosso futuro bem-estar social e económico.
Poder-lhe-ia ter dado para pior!!
Cavaco Silva quando era primeiro-ministro decidiu, ao que suponho após ter consultado os seus oráculos/assessores, afirmar numa televisão pública que o mercado bolsista estava muito inflacionado em termos de cotações das acções e de uma hora para a outra o mercado ressentiu-se, fazendo-se uma correcção ao longo dos dias imediatos, tendo igualmente ocorrido a perda de muitas poupanças de pequenos aforradores que viviam um pouco mais desafogadamente com os rendimentos “fáceis” que provinham das suas acções sobrevalorizadas.
O poder e a maneira como é utilizado, para o bem e para o mal, por um governante é sobremaneira importante, pois pode marcar o ritmo e o modo como um país se desenvolve.
Só que neste caso, em que se assume serem os sectores do turismo e da energia as bases do progresso, não se trata mais do que uma mera repetição do que tem sido afirmado no passado, pelo menos a espaços temporais de acordo com as necessidades.
O turismo, em minha opinião, beneficiou durante as últimas décadas de um “mutismo” completo por parte das autoridades, que apenas se deram ao trabalho de encaminhar alguns subsídios concedidos através de programas, na sua maioria de origem comunitária, para quem os solicitava.
Não me parece que tenha existido uma verdadeira preocupação com um desenvolvimento sustentado do interior nacional, baseado num verdadeiro programa de ordenamento do território tendo por base, por exemplo, a fixação das populações, o desenvolvimento das cidades interiores ou mesmo das actividades ligadas aos serviços.
Esse papel, quanto a mim, foi em grande parte desenvolvido pelas diversas instituições de ensino superior – caso das universidades e politécnicos – que permitiram uma maior qualificação das populações jovens, as quais não se fixaram na sua grande maioria no interior por não haver serviços ou indústrias onde desenvolverem a sua actividade profissional.
Romanticamente levou-se os habitantes do interior português a criarem espaços de turismo rural e habitacional, que de certa maneira e na sua maior parte não são mais do que meios de subsistência de quem os detém, advindo daí um rendimento extra à sua actividade laboral ou em muitos casos servindo como complemento de uma reforma.
O modo como o turismo é referido pelas entidades governamentais, neste momento, parece ser uma tentativa de encontrar “locais” onde colocar jovens na actividade laboral e justificar assim ter-se encontrado, desta maneira, o meio de cumprir a promessa de campanha eleitoral de criar uns milhares de postos de trabalho.
Só que, e aqui entra o outro sector de actividade em que Sócrates tenta basear todo o futuro desenvolvimento nacional, dado que o turismo depende enormemente do petróleo.
“Constipações” nos países produtores do médio-oriente – que se podem traduzir pelas constantes e mais ou menos graves crises políticas aí existentes, e entre eles e os Senhores Bush ou Blair – ou medidas levadas a efeito através da redução nos valores da produção pelo cartel da OPEP, são sem dúvida factores incontroláveis pelo Senhor Sócrates e que afectam sobremaneira os fluxos turísticos.
O petróleo ao atingir um valor da ordem dos 60 dólares por barril no decurso da última semana mostra que o seu comportamento, caso se mantenham as condições até agora surgidas (condição ceteris paribus, como se usa dizer no meu ambiente de trabalho), se manterá com tendência crescente podendo, na minha modesta opinião, situar-se entre os 90 e os 100 dólares por barril, no decurso do mês de Dezembro do corrente ano.
Neste momento, pelo que a informação televisiva nos dá a conhecer, queixam-se tanto os que deveriam ir e os que vão de férias como aqueles que os deveriam receber na hotelaria ou na restauração.
Os preços sobem de uma maneira directamente proporcional ao aumento dos mesmos nos diversos produtos energéticos e claro criam-se, por exemplo, taxas adicionais sobre os valores das tarifas dos bilhetes de viagens aéreas, que já por si tinham sido aumentadas pela existência de taxas com origem no aumento do custo da segurança, como consequência do incremento de actos de terrorismo.
Claro que poderemos sempre ter em atenção políticas que nos levem a utilizar energias de tipo renovável e que aumentem a nossa capacidade de auto-sustentação energética, reduzindo em grande parte os custos inerentes à aquisição de produtos provenientes de países terceiros.
Mesmo assim e considere-se o que se está a passar este ano em Portugal, qualquer situação de seca que nos afecte, pese embora já se ter um Alqueva, ir-se-á reflectir na necessidade de aumentar a importação de produtos energéticos de tipo electricidade.
Não quero com isto afirmar que Sócrates e os seus muchachos-governantes não devam assumir que o desenvolvimento do país não passará pelo progresso que estará inerente aos sectores ligados ao turismo e energia, pura e simplesmente assumo que seria interessante e mais seguro atribuir importância a outros sectores, nomeadamente algumas actividades afectas ao sector industrial.
Não temos sido muito felizes nos últimos tempos – acredito mesmo que isto se aplica ao contexto dos estados-membros da comunidade europeia -- que de uma maneira displicente “olharam”, por exemplo, para os têxteis como um sector de actividade onde seria impossível termos revezes e de um momento para o outro nos vimos a braços com um novo tipo de “febre amarela” sem sabermos bem como iremos resolver tal.
Criamos, a nível comunitário e nacional, entraves à importação de produtos têxteis de origem chinesa e dá-me a sensação de que ficamos tranquilos por mais algum tempo.
Aguardo ansiosamente por ver quais irão ser as medidas a aplicar à importação dos “jipes” de origem chinesa e que entraram em território nacional para venda a preços baixíssimos, pondo em causa, necessariamente, as vendas do mesmo tipo de veículos das diversas marcas já representadas em Portugal.
Novas medidas de contenção irão surgir?
A menos que façamos como o presidente do Governo da Madeira que recentemente e numa decisão pouco lúcida do único neurónio existente no seu “imenso” espaço cerebral, ameaçou mandar todos os cidadãos/comerciantes de origem chinesa, estabelecidos na ilha, para fora desta.
Nesta eu não “embarco” e se não temos unhas, que venham outros e toquem a viola!
In Correio dos Açores

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