Saturday, August 11, 2007

OS MAL AGRADECIDOS

Caríssimo primeiro-ministro, cidadão engenheiro José Sócrates – peço imensa desculpa se me enganei no título, mas com toda a confusão surgida à volta deste assunto e com a falta de esclarecimento, que espero ocorra pelo menos na próxima década do presente século, sinto-me inseguro como devo proceder – quero participar-lhe o meu mais vivo repúdio pelo modo como o vêem tratando nos últimos meses.
Ele são altos gritos, comentários em surdina, gestos menos bonitos, assobios de protesto e até esgares do mais puro e profundo desprezo, os quais “contracenam” com as outras vozes menos gritadas quase melodiosas, gestos de amizade, assobios de apoio e olhares benevolentes de apoio dos seus já poucos mas “eternos” (pelo menos enquanto tiver poder e/ou não surgir uma alternativa válida no partido), cegos, surdos e mudos, quais macacos, seguidores.
Todos e tudo serve para destabilizar a governação nacional socialista, que protagoniza neste momento, tendo em vista o engrandecimento do país e o bem-estar deste tão mal agradecido, mas humilde, povo.
Não faltavam mesmo as sondagens, negativas ainda por cima, que surgem e que permitem concluir, de certo concorda comigo, que o povo é na realidade muito mal agradecido e que está insatisfeito.
Brada aos céus, como se usa dizer.
Insatisfeitos com o primeiro-ministro e com os governantes seus ministros, que tal como a grande maioria dos trabalhadores portugueses, neste momento “trabalham a contrato por tempo incerto”, podendo de um momento para o outro perder o “tacho”..
Como é possível ser-se tão ingrato e não perceber que estes senhores, que trabalham imenso para o nosso bem-estar, na sua quase totalidade aceitam estes lugares – em que são “obrigados” a receberem belíssimos salários, usarem carros topo de gama, incluindo condutor e muitas mais benesses – em prejuízo dos ordenados e benesses que tinham na sua vida não governativa.
São muitos os que até nos esclarecem publicamente que “são prejudicados por aceitarem os cargos”, outros que os “aceitaram pelo povo” e sentido de “dever público”.
Daí vê-los tristes e trôpegos de pensamentos, não sendo difícil encontrar alguns tantos que quase só dizem asneiras, em espaço nacional e internacional e a ritmo acelerado, assumindo até comparativamente com o que lhes vai dentro das respectivas “cabecinhas” pensadoras, por exemplo, que a sul do Tejo só há deserto.
Então não têm v. exa. e todas as excelências que o rodeiam – neste momento relembro o programa televisivo que nos dava o essencial do ridículo que é a governação e que dava pelo nome de “Sim Senhor Ministro” – trabalhado, por exemplo, a saúde (refiro ao sector e não às corriditas que v. exa. dá em território estrangeiro e que surgem na comunicação social, tendo por fim mostrar um governante de tipo atlético e como se isso fosse extremamente importante), aumentando a probabilidade dos cidadãos morrerem à procura de um sítio para receberem ajuda médica, de se ter um parto dentro de uma ambulância que percorre quilómetros antes de encontrar o destino e em que ocorrendo o parto na ambulância possibilita que os progenitores da criança lhe atribuam o nome do bombeiro parteiro.
Possibilitando a incomensurável alegria aos cidadãos, apesar de terem descontado durante décadas para aquilo que vulgarmente se define como reforma, de irem trabalhar até aos 65 anos e terem uma menor probabilidade de gozarem o seu merecido período de reforma, porque o espaço temporal entre esta e a ocorrência do seu falecimento é menor, ficando apenas com a alegria defunta de terem contribuído para o equilíbrio das contas da segurança nacional.
Como é possível que os mal agradecidos dos meus concidadãos não percebam que o controlo feito através da denúncia de colegas – caso do professor do norte do país que contou uma anedota acerca do primeiro-ministro – ou mesmo a exoneração da directora de um centro de saúde que se recusou a obedecer a um governante e não retirou um cartaz, afixado por um colega que assumiu tal facto, e a substituição da mesma por um membro do partido socialista, nada tem de negativo e foram sempre atitudes que deram resultados positivos quer a quem denuncia quer para quem governa.
Ou mesmo as greves que ocorrem, de um modo tal vilmente propostas como protestos a esta vossa formidável governação, só podem vir de mal agradecidos que não conseguem vislumbrar ou mesmo sentir o quão agradável é trabalhar sem futuro, ser objecto de avaliação sem qualquer sentido ou mesmo perder regalias obtidas no passado.
A “trabalheira” que foi elaborar um programa governativo na altura das eleições e após a concretização da vitória ter de se alterar o mesmo, aumentando impostos logo imediatamente em total desacordo com aquilo que se havia proposto antes e “apenas” para cativar eleitores.
Mas os mal agradecidos deste país nem assumem que os nossos governantes de um modo estóico constituem listas publicas de devedores ao fisco e à segurança social, quando os valores em divida são volumosos, e que apesar do esforço a lista continua com milhões de euros em divida (o que dá ideia de que as pessoas referidas não se interessam por tal), sendo a denominada arraia-miúda, com dívidas de dezenas de euros, que é ameaçada de penhoras e acaba por as pagar.
O esforço demonstrado pelos governantes, sempre a nosso favor, para encontrarem uma solução para aquilo que haviam já decidido e que várias vezes tornaram público relativamente ao novo aeroporto é digno do maior respeito.
Foi a OTA, é +1 ou +2, é um qualquer cidadão nacional que dá mais um palpite de localizar o aeroporto noutro local e cá temos, não só um governo totalmente baralhado de ideias e de atitudes, mas igualmente que este impasse só demonstra a preocupação pelo bem-estar dos mal-agradecidos cidadãos nacionais, acreditando eu que a resolução final será a OTA +0
In Correio dos Açores

TUDO BEM

A política, como é normal nos meses de Agosto de cada ano, “vai a banhos” e pouco ou nada existe para falar/escrever sobre ela nesta altura.
Tirando um pouco da luta entre “galos” da mesma capoeira, caso de Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, que se entretêm a enviar mensagens por telemóvel para os seus potenciais apoiantes ou alguma noticia que surge na comunicação social proveniente de algum ministro de um governo nacional, que vive sem um primeiro-ministro fundamentalmente dedicado à causa europeia, tudo está adormecido neste país.
Os portugueses esses assistem, em sofrimento de que se já habituaram, à antecipação nacional, por parte das instituições de crédito, do aumento da taxa de juro prevista a nível europeu lá para Setembro/Outubro.
Seguem o velhíssimo slogan nacional de “faça férias cá dentro” e lá se vão entretendo entre idas diárias à praia, variando um pouco com algum piquenique numa qualquer mata ou “conjunto de arvores” numa qualquer berma de estrada e tentam recuperar forças e ânimos para mais um ano que se segue, claro que na perspectiva de que a situação se poderá alterar para melhor.
A esperança reside no facto de alguns governantes darem sinais de que a situação se encontra em melhoria e que não serão exigidos mais esforços aos portugueses.
Sinceramente não consigo perceber como se pode exigir mais esforços de quem já não tem a segurança no emprego que tinha, vivendo com o espectro constante do desemprego, de quem já não tem salário que consiga abranger as exigências bancárias mensais e fiscais que lhe são impostas para além de ter de fazer frente à alimentação e transporte de quem vive na mesma família, de quem necessita de cuidados de saúde e vê-os “fugir” para longe dos seus locais de residência, causando custos adicionais em deslocação e na própria oportunidade de assistência ou de quem tem responsabilidade e gosto de que os seus dependentes estudem e vê aproximar-se o mês em que é necessário comprar livros escolares e demais material, bastas vezes a multiplicar pelo número de filhos.
De positivo apenas o facto de se conseguir viver o dia a dia, sem muitas variações na rotina diária, com a sensação de que melhores dias virão pois aproxima-se, numa perspectiva de um ano, um período eleitoral em que todos sabemos, os políticos são hábeis em nos conseguir, ou pelo menos tentar, dar a volta e fazer esquecer as amarguras do passado recente e darem-nos a conhecer o bem que nos querem para o mandato seguinte.
A história repete-se em cada quadriénio e nós, de memória muito curta, lá vamos embarcando e providenciando o futuro dos nossos políticos.
No entretanto e na ausência de melhores noticias lá vamos sabendo que este ou aquele ministro passará alguns dias de férias em alguma parte turística do nosso país, com especial enfâse para a costa algarvia, ou mesmo que o senhor D. Duarte – neste momento estou todo curvado em esgar de vénia, como é conveniente ao evocar o nome de um pretendente ao trono nacional – apresentou duas queixas que mereceram, ao contrario das nossas, das entidades oficiais o imediato tratamento – nomeadamente a decisão de medir o nível de ruído – por não encontrar condições na Praia da Rocha, para a família real fazer “ó-ó”.
Coitadinho do “piqueno” que tanto contribui para o desenvolvimento nacional e bem-estar dos portugueses.
A nível regional dos Açores e considerando a benéfica ausência do “tonto” do pretendente ao trono nacional, o qual por vezes faz algumas aparições nas esplanadas locais, a situação é em tudo semelhante ao contexto nacional.
Algumas, mas pequenas, trocas de mensagens mais ou menos veementes, que nos permitem saber que o governo não vê com bons olhos a execução do parque de estacionamento junto às “suas” portas do mar; a afirmação, em resposta autárquica, de que este estará pronto oportunamente e que em nada obstará à inauguração das mesmas nas vésperas das próximas eleições regionais legislativas, em que Carlos César se assume, embora ainda muito superficialmente, como candidato à presidência do governo regional.
Ou ainda, embora a nível partidário, as prováveis eleições directas para encontrar um novo responsável regional para o tão gasto – de nada fazer de positivo e provavelmente apenas das suas numerosas visitas aos velhinhos e criancinhas da ilha Terceira – líder do principal partido da oposição que não merece ser tão mal tratado, tal como Carlos César que necessita de uma mais forte e coerente oposição para governar melhor.
Não fora o facto de alguns acontecimentos pontuais na vida regional açoriana e poder-se-ia afirmar que nada há de novo nesta região paradisíaca.
Tal é, por exemplo, o ocorrido e noticiado nas páginas deste mesmo jornal sobre o que se passou nas caldeiras das Furnas e que envolveu as filmagens da celebérrima telenovela, promovedora do turismo regional.
Por mero acaso e em virtude de querer fazer jus ao que vinha afirmando perante um pequeno grupo de amigos que se deslocaram a S. Miguel, vi-me na necessidade de ir às Furnas, de modo a preparar um dos nossos famosos cozidos nas caldeiras.
A ideia era de facto possibilitar a degustação do mesmo localmente mas sinceramente, não me pareceu muito condigno utilizar qualquer dos locais potenciados para a merenda, dada a imagem negativíssima que daí resultaria.
Optamos assim por “enterrar” a comidinha e aproveitar o “intervalo” de tempo da cozedura para irmos a banhos na maravilhosa praia da Vinha da Areia.
O “inferno” começou bem cedo e aquando do “enterro” do cozido, pois a zona estava vedadíssima por muitos agentes da autoridade que só a muito custo me deixaram, no intervalo de uma das numerosas filmagens, passar com o funcionário camarário e “acertar” com o cozido no buraco, não antes de recomendarem a mim e ao meu telemóvel o mais absoluto silêncio.
Ficou a esperança para os meus amigos, que me acompanhavam, e para tantos outros turistas reclamantes, que no “desenterro” da refeição fosse possível desfrutar da beleza única que são as manifestações de vulcanismos, como elas existem nas Furnas.
De volta e na hora marcada a surpresa foi ainda maior.
Não só permaneciam no local os mesmo agentes da autoridade que vinham a manter o local “fechado” desde manhã, como estavam “à boca de cena” (leia-se entrada de acesso para a zona das caldeiras) três viaturas da polícia com três agentes em cada uma, dois carros de bombeiros e duas ambulâncias com o respectivo pessoal.
Entre os “palpavos” regionais/locais que estavam entusiasmadíssimos a “ver” a filmagem de uma distância de, sei lá, quinhentos metros e numa esquina que nada se via, estavam não só os meus amigos mas numerosos irritadíssimos turistas que iam, digo bem “iam”, ver um dos mais famosos cartazes turísticos regionais.
O que sucedeu? Nada para alem de uma espera de bastante tempo, em que se salvou a Rita, uma das meninas da produção, que nos mantinha com o animo elevado, afirmando que só faltavam dez minutos, mais cinco, mais… e que nos ia amiúde pedindo desculpas e o facto da “morte” do Zeca Medeiros ser feita com um boneco.
Claro que ninguém conseguiu ter acesso ao local e tirar as celebres fotos de família junto ao cozido que triunfalmente saiu do “forno” térreo, tendo o mesmo cozido demais e por pouco não potenciado batatas, doces e inglesas, a uma sopa.
Belíssima imagem esta que se deu para os nosso visitantes nacionais e estrangeiros, quando de facto a ideia dos nossos responsáveis é fomentar o turismo regional.
In Correio dos Açores

32 ANOS

Depois de amanhã faz precisamente trinta e dois anos sobre a data em que, alguns de nós, fomos presenteados com um movimento denominado dos capitães e que permitiu se criassem expectativas sobre uma vida melhor para todos os portugueses e principalmente que se sentisse a liberdade nos mais diversos aspectos individuais e sociais.
Foi deste modo que nos deram a entender que estávamos a “entrar” num espaço temporal essencialmente democrático, embora tal estivesse associada à responsabilidade de cada um individualmente enquanto integrado em sociedade.
Pessoalmente assumo que o movimento teve por base a situação insuportável de mal-estar que se sentia na população portuguesa, principalmente aquela que vivia nos meios urbanos, em termos de reivindicação latente, a situação de guerra existente e a existência de uma classe social bastante favorecida, que de um modo mais ou menos ostensivo teimava em manter o conjunto de regalias de que beneficiava.
Daí que um movimento que se intitulava revolucionário e que pretendia alterar esta situação, fosse recebido de “braços abertos” despertando na população, de um modo geral, um sentido de simpatia, de aderência e de legitimidade.
É certo que o futuro dos governantes da altura era de um modo geral, muito pouco consistente em termos de continuação do regime, sendo previsível que mais tarde ou mais cedo se verificasse um movimento no sentido de alterar toda esta situação.
Fundamentalmente criando expectativas de evolução socio-económica e cultural à população portuguesa, foi de certo através da adesão que oportunamente ocorreu e o apoio da Europa Comunitária que conseguimos atingir alguns dos objectivos de que tanto carecíamos e desejávamos.
Connosco entrou a nossa Ibérica irmã – a Espanha – verificando-se no decurso do tempo que esta, embora partindo de uma “saída” do regime franquista mais tardia e de uma situação económica menos favorável, conseguiu crescer económica, social e culturalmente a um ritmo mais acelerado que o de Portugal.
Na minha opinião a rejeição do regime salazarista/marcelista representou o virar de página que quase todos nós merecíamos/queríamos.
A democracia tinha chegado e todos acreditávamos que a existir, seria consubstanciada num futuro mais verdadeiro, sem favoritismos, em que os melhores seriam considerados e em que não mais prevalecesse a situação de indivíduos integrados em grupos ou grupelhos – considerados estes quer a nível religioso quer desportivo quer político quer em outro qualquer aspecto - e os critérios oportunidade apenas se baseassem em elementos caracterizadores definidos através da qualidade nos mais diversos aspectos.
A realidade trouxe-nos no entanto algo extremamente diferente.
Aquela democracia que muitos de nós entendemos ser real, no verdadeiro sentido da palavra, tornou-se em algo vazio, com nuances acentuadíssimas de oportunismo e que deu origem à criação de novas elites.
Continua a não ser o mérito do individuo em si que prevalece para a ocupação de alguns – mas muitos - cargos políticos existentes.
É comum conhecerem-se casos de ocupação de cargos, aos mais diversos níveis de governação, em que a qualidade pessoal e profissional do indivíduo é preterida a favor de filiados e simpatizantes dos partidos ou mesmo de familiares ou amigos.
O oportunismo leva, nesta democracia, a que se favoreçam pessoas conseguindo-se “dar” o aspecto de que os muitos e diversos concursos para ocupação de postos de trabalho existentes, cumprem as regras mínimas de seriedade.
É uma verdadeira democracia “musculada” em que quem se manifesta contra determinadas situações, quer por escrito quer falando, e não entrando no “jogo” se sente preterido ou mesmo prosseguido, sendo o melhor que lhe pode acontecer o ser colocado numa “prateleira” mais ou menos dourada.
Prevalecem as situações, benéficas a quem governa e deseja continuar a deter este poder, de indivíduos que bastas vezes nem pertencendo aos quadros das instituições onde desempenham a sua (má) actividade profissional, são comummente identificados como capachos.
Os tais que não tendo onde “cair mortos”, muitas das vezes sem grandes qualificações literárias ou profissionais, vão “rezando” diariamente para que o seu “santo patrono” não caia em desgraça e lhes seja retirado o cargo e benesses de que desfrutam.
Mas reconhecendo o “serviço” prestado muitos deles beneficiam de entradas para os quadros das instituições ou empresas públicas e por lá ficam, andrajosamente andando ao sabor do momento e sem fazer ondas, não vão os colegas lembrarem-se do passado.
Depois é todo um conjunto de indivíduos que de modo atrevido se candidatam – ou melhor dizendo, “aceitam” a oportunidade de ocuparem cargos – concluindo-se posteriormente que no seu passado existe uma qualquer situação menos clara perante a justiça, quer a nível civil quer fiscal.
São as promessas eleitorais as quais após a “tomada” do poder, deixam de ter significado e se passa a actuar de modo totalmente contrário, deixando de se ter em consideração que foram os eleitores que levaram os eleitos ao poder, que tanto desejaram.
Por exemplo, deixam de ter sentido os aspectos sociais referenciados como carências existentes nas crianças e nos idosos.
Num povo em que o número de crianças é cada vez menor e o de idosos é cada vez mais elevado, o aspecto que sobressai como preocupação é cada vez mais o económico em detrimento do social.
No entanto o período de reforma de uma certa elite nacional é “atravessada” por chorudas reformas mensais, em detrimento de um grupo de idosos cada vez mais carente.
Os governantes dizem-se preocupados e recentemente afirmaram que vão actuar de modo a proporcionarem melhores condições de vida a esta gente, só que num período de dez anos.
Por outras palavras, dizem-nos que vão fazer tudo que devem fazer mas num prazo que eles próprios nem sabem se serão governo, embora o desejem para seu próprio bem.
Continuam as situações mais ou menos claras de viagens, faltas e ajudas de custo aos deputados fora da zona da cidade de Lisboa – quem os obrigou a candidatarem-se? Eu não fui! – jantares e comitivas, carros e pessoal de apoio em excesso – onde se encaixam os familiares, amigos e demais capachos – numerosas benesses, etc…
Continuam alguns cidadãos, quer por escrito quer verbalmente, a tentar mostrar publicamente que tudo isto em quase nada difere do que existia antes de Abril de 74, e que o “rei vai nu”.
Na realidade, não sendo motivo de prisão como no passado, tudo isto implica que mais ou menos se vai sofrendo o ostracismo de quem detém o poder.
Compreendo plenamente que muitos de nós, embora sentindo um enorme desejo de escrever ou falar, não o façam, tendo em atenção o seu próprio futuro ou dos seus familiares.
Por isso Abril foi algo que me deu enorme alegria ao ocorrer pelo que para mim representava em termos de futuro.
Abril é agora uma leve reminiscência da democracia que então eu assumia ir ser, fundamentalmente culpar dos “maus” governantes que estas três décadas permitiram que escolhêssemos.
Procura-se novo Abril.
In Correio dos Açores

OS ULTRAPERIFÉRICOS

Viver nos Açores é cada vez mais um acto de coragem.
São constantes os momentos em que sinto, pelos numerosos contactos com que as pessoas me beneficiam ao longo da semana quer por contacto quer por e-mail, que existe uma atitude de resignação e que se sente que nada há a fazer perante determinadas atitudes que os governantes, quer a nível nacional quer regional, assumem sempre na perspectiva de que é o melhor para todos nós cidadãos.
Felizmente que cada vez menos existem governantes, tal como Manuel Pinho fez no passado recente, que nos presenteiam com afirmações idiotas de já estarem a ver a luz ao fundo do túnel.
Não há luz ao fundo do túnel e muito menos existe qualquer túnel e tudo não passa de um conjunto de imagens idiotas com que nos pretendem presentear como se fossemos cidadãos que se enquadram no conjunto dos idiotas, que diga-se em abono da verdade e em minha opinião, são percentualmente muito mais representativos no grupo dos governantes e “anexos” do que no conjunto da população.
Situação semelhante é aquela do tabu.
Para mim os políticos quando não têm certezas e principalmente não sabem se devem ou não assumir compromissos eleitorais em futuro, bastas vezes porque não sabem se os resultados lhes serão favoráveis, arranjam um tabu.
Tal permite não só salvaguardarem-se de situações futuras mas igualmente verificar/confirmar quem são os outros “idiotas” que pretendem ser potenciais ocupantes dos cargos dirigentes.
Cavaco Silva criou no passado a figura do tabu, deu-lhe tempo para que ele existisse, conseguiu que se criasse a expectativa necessária e suficiente sobre o que poderia acontecer, fez “transpirar” a ideia de que todos necessitávamos da sua “imagem” e “presença”, para além da sua (duvidosa) capacidade, e o povo – que como multidão é sempre levado para onde os políticos os decidem levar – ficou “excitadíssimo” com o revelar do tabu, qual milagre, mesmo quando se verificou que o tabu não passava de uma simples decisão de candidatura e que numa maneira muito portuguesa a “montanha tinha parido um rato”.
O que quer dizer, por palavras muito simples, não saiu nada de jeito daquela boca, o que me parece se vem repetindo, nos últimos meses, com muita frequência.
O povo esse, apesar de se sentir defraudado pela novidade que o não foi, lá foi assumindo que existia razão para se considerar a necessidade da existência de um tabu, dando razão que é mais fácil serem outros a pensar do que pensar por si próprio.
Surgiu agora na comunicação social áudio visual regional aquando da deslocação de Carlos César aos países do continente norte-americano onde a diáspora açoriana se fixou, a ideia de que também ele estava a criar um tabu sobre a sua possível ou não decisão de se candidatar novamente à presidência do governo regional.
Não sei se sim ou não está criado o tabu, nem mesmo sei se aquilo que ele disse era para ser tabu ou foi “lido” assim.
Pergunto-me para quê um tabu quando tudo aponta para que no momento em que irá ocorrer essa nova hipótese de eleição, ainda é possível que a oposição se encontre à procura de um líder credível, de um conjunto credível de elementos da oposição que o apõem e que efectivamente para além de conhecerem aprofundadamente os “dossiers” de trabalho a debater são capazes de apresentar as soluções credíveis para resolver os problemas – e eles são muitos e talvez em futuro sejam imensos – que Carlos César e os seus “pares” não conseguiram resolver em três mandatos.
Para mim um verdadeiro tabu a “criar”, assumindo a qualidade da oposição regional que se auto-ilude sobre a melhoria da mesma, poderá ser sobre o facto da possível candidatura às eleições legislativas regionais de 2024, por parte de Carlos César.
Onde está esta oposição?
Veja-se o que se passa na Região, em questões de aumentos generalizado de preços, nomeadamente no que respeita os produtos energéticos e consequentemente o aumento dos custos induzidos na produção dos mais diversos produtos, no que respeitam as enormes dificuldades com que as famílias se debatem no seu dia a dia e que “prometem” serem cada vez piores, aos já existentes despedimentos, aos aumentos dos problemas na saúde e ao caos existente no ensino, considerado este a todos os níveis, aos problemas relacionados com as pensões de reforma reduzidas pela imposição de um imposto, à situação dos idosos e de todos os indigentes existentes na sociedade.
Como, com que fundamento, com que convicção e, embora exista uma maioria absoluta “sentada” na cadeira do poder, com que credibilidade nos quer fazer acreditar que esta a dar o seu melhor, claro que em termos de acção politica, por todos nós?
Não chega escrever semanalmente uma coluna num jornal diário e aparecer quase que “por engano” num qualquer telejornal.
E o próprio governo regional, que fazendo ouvidos moucos e assobiando para o ar, vai de nãos nos bolsos e olhando apaticamente para tudo e todos os que o rodeiam ou que com ele se cruzam, admitindo custos e mais custos insuportáveis para um cidadão que vive naquilo que eles, os políticos, admitem ser uma região ultraperiférica insular europeia?
Não deveriam o governo e a oposição, admitindo que tanto reivindicam perante a comunidade europeia utilizando o conceito de região ultraperiférica insular, reivindicar com os mesmos argumentos ou outros ainda mais fortes, que possuindo nós tais características e sendo parte integrante do todo nacional, merecemos ser tratados como tal
Tomemos o último dos aumentos anunciados, embora assuma que muitos mais nos serão anunciados como presente da época natalícia.
A TAP – a tal companhia que quando alguns anos atrás operava em monopólio na Região afirmava a “pés juntos” que a exploração da linha não era rentável, mas que nunca a quis perder nem abandonar – decidiu aplicar um aumento às tarifas de cerca de 11% - relacionado com o aumento verificado no custo dos combustíveis – passando a passagem aérea de ida e volta entre Lisboa e Ponta Delgada a custar muito perto de duzentos e cinquenta euros.
A SATA internacional, aproveitando a boleia – característica possivelmente aprendida com o governo regional que aproveita as “boleias” dadas pela República – vai também aumentar o custo das suas tarifas no mesmo percurso e pelos mesmos motivos.
Apesar dos pedidos da comunicação social esta empresa regional nem se dignou justificar o motivo de tal aumento, seguindo as “passadas” dadas pelos próprios governantes regionais.
Para mim, enquanto residente nos Açores, os aviões funcionam como um qualquer carro, mesmo dos da classe mais económica, para um qualquer transmontano, embora estes tenham outros meios de deslocação que nos são vedados enquanto insulares.
Os açorianos não podem “meter” cinco pessoas numa viagem à “capital” e num qualquer veículo automóvel dividindo o custo por cinco; os açorianos têm de “entrar” para um meio de deslocação do tipo aéreo, pois não existe outro qualquer processo de fazer este percurso, e pagar por cinco pessoas cerca de mil e duzentos euros.
Com que direito é vedado aos açorianos, principalmente aos mais jovens e/ou aqueles com cada vez menos recursos, o conhecimento por exemplo, da capital daquela que identificam como sua pátria, dos seus monumentos que lhe podem mostrar a grandeza que Portugal já teve (e infelizmente já nem pretensões tem de tornar a ter), o acesso à cultura, etc…
Não passando de portugueses de segunda ou mesmo de terceira para o chamado antigo regime – antes de Abril de 1974 – em que quase nem se conheciam as coordenadas geográficas da localização do arquipélago (reza a historia que certo ministro salazarista mandou as tropas se deslocarem entre ilhas por via ordinária, leia-se a pé e possivelmente na maré baixa), somos agora os “ultraperiféricozinhos” que apenas servem para que os governos regional e central consigam “cravar” mais uns trocos para “exibirem” obras de fachada que lhes permitem ganhar eleições futuras.
In Correio dos Açores

GEOTERMI(D)A

Durante quase quatro décadas os habitantes da Região criaram expectativas uma vezes devidamente fundamentadas, pelo que na ocasião vinha ocorrendo e era transmitido a público pelas entidades competentes, outras infundadas pelos resultados que entretanto eram obtidos e contradiziam todos os objectivos que nos propuseram atingir.
Ao longo dos anos passou-se de uma época de prospecção para outras identificada com a fase experimental – com a perfuração de poços, com interferência de produção entre si, a rondarem os oitocentos metros e com a montagem de uma central cuja produção anual pouco significava na produção total da ilha – e finalmente para uma fase pré-industrial e industrial, com a perfuração do primeiro furo a mais de 1500 metros e posteriormente com outras perfurações e instalação de uma central modelar que teria uma capacidade de cerca de 13 MW, servida por quatro furos.
No decurso do tempo os objectivos inicialmente apontados não foram atingidos como é, por exemplo, neste momento o caso da potência disponível que por dificuldades de produção de geofluído ser só de 10 MW.
Invariavelmente surgem notícias na comunicação social que nos permitem afirmar que tudo vai mau no reino da geotermia.
As últimas noticias referiam haver uma situação menos “amistosa” opondo a SOGEO – empresa regional destinada à produção de energia eléctrica através dos fluidos geotérmicos – não só à empresa que tinha como incumbência a perfuração de alguns poços como igualmente à empresa israelita fornecedora dos grupos geradores.
Não consigo afirmar que são estes maus relacionamentos entre empresas que estão na origem do que se passa na produção da empresa geotérmica.
O certo é que contrariamente a todas as expectativas que criaram aos habitantes da Região e mais especificamente aos micaelenses, os valores de produção de energia eléctrica tendo por base a geotermia têm vindo a decrescer desde o início do novo século.
Foram cinco anos em que a produção de energia baixou de cerca de 105 GWh no ano de 2001 para um valor estimado de cerca de 75 GWh em Dezembro do ano que findou, o que representa uma quebra de cerca de 29% do rendimento da produção das centrais.
Dito de outro modo: em 2001 a produção de energia eléctrica de origem geotérmica representava, relativamente à produção total energética em S. Miguel, cerca de 34,4% tendo este valor passado para cerca de 18,5% em 2005.
Explicações para tal? Nenhumas!
Os habitantes desta Região não devem ser “dignos” de tal justificação.
É no entanto interessante esclarecer que embora a SOGEO seja uma empresa que desenvolve a sua actividade no âmbito das empresas privadas, teve na sua formação como sócios pelo menos três empresas públicas regionais as quais detinham a grande maioria do capital social da mesma, se não me falha a memória cerca de 80%.
Este capital, parte do capital do Consórcio Geotérmico dos Açores, eram dinheiros públicos “investidos” no projecto pelo Governo Regional de então, consequentemente de todos aqueles que como seu trabalho contribuíam para o erário público.
De qualquer maneira nem antes nem depois da privatização das empresas públicas “gestoras” do dinheiro de todos nós, no capital da empresa de geotermia, ouvimos ou lemos qualquer tipo de justificação para o que vinha ocorrendo.
Muito menos nos últimos cinco anos em que a situação, pelo menos em termos de produção, piorou substancialmente.
Sem qualquer efeito têm vários articulistas e por variadíssimas vezes, neste jornal diário, chamado a atenção que é necessário dar a conhecer o que se passa com a produção geotérmica de electricidade, no entanto têm sido feitos “ouvidos de mercador”, como se usa dizer.
Não merecemos ou quem pode na realidade actual perante esta situação, não está de facto interessado ou pior não consegue aperceber-se de todo um conjunto de implicações que esta cada vez maior “ausência” de produção significa para a Região.
Para que não fiquem dúvidas focarei a minha atenção em apenas quatro aspectos de muitos outros possíveis de identificar:
1. quando a produção de electricidade não é feita através dos fluidos geotérmicos, e como não se consegue no “imediato” disponibilizar mais produção através de outras energias de tipo renovável, esta é feita através da utilização de combustíveis do tipo fuelóleo e/ou gasóleo;
2. a produção através destes tipos de combustíveis agrava, pela sua aquisição, o deficite da nossa balança de pagamentos correspondente à importação destes derivados do petróleo;
3. este custo, inerente à aquisição de derivados do petróleo, é tanto mais gravoso para a Região quanto a situação internacional se deteriora e os preços dos mesmos tendem a crescer, quase de modo incontrolável, como se tem verificado nos últimos anos;
4. os impactes ambientais provocados pela utilização dos derivados do petróleo na substituição da produção de electricidade de origem geotérmica que não é efectuada, são sobremaneira muito mais elevados e gravosos para a Região, devendo mesmo se de considerar que se pretende manter o espaço insular o mais perto do lema “onde a natureza ainda existe” tendo em vista fomentar o turismo um dos suportes ao tão desejado desenvolvimento regional.
Seria interessante para além de tudo, que nos conseguissem justificar perante todo o investimento efectuado na última década e meia, qual a razão porque em certos documentos oficiais, por exemplo a produção geotérmica no total aparece com tendência crescente até 2007 – em parte pela entrada em funcionamento da central do Pico Vermelho – e a partir desse ano se prevêem produções de variações negativas de tal modo que o decréscimo entre 2007 e 2010 está previsto como sendo novamente de cerca de 22%.
Os responsáveis regionais devem assumir que estes assuntos, pois mais difícil que seja, necessitam de ser encarados de frente e discutidos publicamente, encontrando os pontos fortes e fracos dos projectos e identificando de um modo definitivo quem pode ou não pode participar nos mesmos e se caso for, quem deve ser deles afastado, de modo a que o futuro seja muito melhor para todos nós.

No momento em que se assume que a geotermia e consequente produção de electricidade através deste tipo de energia renovável será dentro em breve uma realidade na ilha Terceira, tenha-se pelo menos a coragem de identificar e analisar os erros ocorridos no projecto micaelense de modo que melhor se concretize o da Terceira.
In Correio dos Açores

A GRANDE FARRA

A semana que decorreu foi fértil em acontecimentos ao nível de decisões governativas que me levam a acreditar que, em apenas cinco dias úteis, seria impossível um conjunto de pessoas tomarem tantas decisões que levam a acreditar que a frase dos celebérrimos livros do Asterix deve estar na moda e que refere “Estes Romanos/Governantes devem estar loucos!”
Primeiro é a decisão - que assumo Carlos César deve considerar que é muito oportuna e coerente, pois caso contrário não se lembraria de tal e nem a apresentaria por vergonha – de levar ao parlamento regional a possibilidade dos reformados da função pública tornarem a exercer, na mesma, uma actividade remunerada.
Na realidade e ao contrário do seu padrinho, José Sócrates que tenta “encurtar” os efectivos da função pública, Carlos César quer possibilitar que os reformados calculo que regionais, possivelmente com provas dadas, mas não se sabendo onde e como, venham a “trabalhar” na mesma função pública.
Deduzo eu que esta será mais uma maneira “encapotada” de pagar serviços passados prestados no âmbito da politica e mais uma vez, à sobra de uma democracia de sabor parlamentar maioritário e sobremaneira musculada, contribuir para maiores custos no orçamento e impossibilitar que tantos jovens, que se encontram ávidos de mostrar o que valem e que podem contribuir para o desenvolvimento sustentado regional de modo mais actual, venham a ser preteridos em favor de outros, que pese embora tenham saber acumulado, muitas vezes têm perspectivas/métodos de trabalho já ultrapassados.
Não mereceram os jovens o direito de provarem que conseguem, tal como fizeram a seu tempo os reformados que César quer favorecer, ser óptimos profissionais que contribuirão para o enriquecimento futuro da Região.
Será que César se esqueceu que a alteração que se veio a verificar na idade de reforma na função pública originou uma autêntica “brigada de reumático” cheia de anos de defeitos ao nível de comportamento profissional e social, dando agora origem a uma segunda “brigada de reumático” constituída por privilegiados que possivelmente desempenharam ou mesmo desempenham actividades politico-patidárias, que os elege directamente para serem classificados como reformados/activos.
Já nada me surpreende, muito menos depois de ver que em politica existem lugares públicos e cargos “talhados” a rigor para seguidores e gente de língua de fora cuja função é dizer “sim” e “lamber botas” sem bastas vezes terem qualquer tipo de atributo, quanto mais profissional, para ocuparem lugares que por direito de qualidade deveriam ser de outros.
Pobre democracia que, de lhe ser possibilitada a existência como maioria absoluta, é tão mal tratada e vilipendiada.
Por outro lado fomos confrontados esta semana com uma decisão - que assumo ser fundamental para o desenvolvimento sustentado da Região, a qual infelizmente alguns governantes parecem querer transformar em couto privado de caça – e que teve origem no secretário regional da agricultura e florestas de conceder um subsídio a fundo perdido – leia-se “nunca mais tal dinheirinho vai entrar nos “cofres” regionais – a um clube de basquetebol da ilha Terceira, no valor de 100 mil euros.
Justificando a importância de tal decisão o governante é peremptório afirmando que o clube irá por este meio “realizar uma campanha de promoção dos produtos agro-alimentares regionais”.
Boa!! Suponho que esta promoção será a nível do País e custa-me a identificar quais são os produtos regionais que irão ser promovidos e mais me custa admitir que estes existirão em qualidade e/ou quantidade para serem promovidos.
A partir de agora não se admirem de ver que o clube terceirense de basquetebol passe a jogar com uma melancia regional, em vez de bola, e a usar um caixote da tetrapack de leite meio-gordo regional, em vez de camisola.
Gradualmente o ridículo vai atingindo todos os membros do executivo, sempre…mas sempre tendo por suporte a maioria absoluta que tudo permite, nomeadamente que nós os cidadãos nos permitamos rir de ver como nos querem fazer passar por tolos, mas não conseguem.
Só que a politica já cansa de tal maneira – ainda mais com decisões deste tipo – que já nem conseguimos reagir a decisões tão importantes.
Resta acrescentar que o subsídio agora atribuído junta-se a outros que os clubes desportivos, que representam a Região em competições nacionais, têm direito e que se encontra devidamente regulamentado, sendo que para tal devem usar a marca Açores nas camisolas.
Duplo subsidio para uma dupla promoção regional feita pelos mesmos intervenientes?
Um outro caso tem a ver com o insucesso escolar.
Também esta semana foi assunto “quente” a recuperação que se fez sentir nos últimos dois anos no que respeita ao insucesso escolar, cuja taxa passou de cerca de trinta para nove porcento.
Cada vez mais considero que existem pessoas que pensam de noite, executam de dia e a obra realiza-se.
De tanto pensarem e apregoarem que fazem até acreditam que ela se realizou e de repetirem tanto o que todos sabemos não ser verdade, acreditam serem excepção à regra dos humanos e que realizam “obra”.
Olham-se ao espelho e nem acreditam no que vêm.
Por isso insistem, por isso deturpam e admitindo critérios, que mais ninguém consegue compreender, afirmam que estamos melhores posicionados a nível nacional e comunitário e criando uma mancha negra lá vão afirmando que os nossos alunos estão mais qualificados em conhecimento académico e que o consequente insucesso escolar está a “ir por água a baixo”.
Pobre de quem não vê e como se usa dizer entre nós portugueses “mais cego é aquele que não quer ver”, pois tapar o sol com a peneira não invalida que este nos continue a atingir.
Embora de certo muitos outros casos existam, fiquei bastante “feliz” por saber que as minhas contribuições anuais para o chamado banco alimentar se podem transformar numa autêntica “mistela” que é posteriormente atribuída a quem carece de alimentos.
Como é possível, a ser verdade e acredito que o seja, que famílias a quem foram atribuídos alimentos os recebam deteriorados e que quem os irá consumir, nomeadamente crianças de tenra idade, estejam sujeitas a irem parar aos hospitais porque os mesmos não se encontram em condições de serem consumidos?
Se não existem locais para armazenar os produtos nas devidas condições, o governo tem a obrigação de os criar – nem mesmo que o secretário regional da agricultura tenha de dar um subsidio à presidência do governo, em vez de o dar ao Lusitânia – pois a enorme quantidade de produtos recolhidos resulta na sua grande maioria de sacrifícios de uma população, principalmente de classe média, já de muito sacrificada com impostos e que não vendo resultados positivos das suas generosas e abnegadas acções, pode muito bem deixar de as fazer.
Até porque, quanto a mim, é ao Estado e neste caso mais directo ao governo regional que cabe a obrigação de criara condições para que os mais necessitados tenham os mínimos de condições de vida, claro que tudo isto tendo por base o dinheiro contributivo recebido dos cidadãos.
Incrível como a bagunça é tão grande e a grande farra se acentua ao passar do tempo!
In Correio dos Açores

FILOSOCRATICES

O nosso primeiro-ministro, José Sócrates, mostrando a afinidade que tem em termos intelectuais com o filósofo e pensador Sócrates – o da antiguidade e que vem de longa data nos manuais pelos quais muitos de nós estudamos – apresentou-se em público e indicou como sectores fundamentais ao desenvolvimento do nosso país, o turismo e a energia.
Facto que até parecia a grande maioria dos portugueses desconhecer e que se tornou uma realidade porque teve origem em Sócrates.
Extraordinário como estes dois sectores de actividade se tornam peças fundamentais para o desenvolvimento só porque o nosso primeiro-ministro referiu serem as bases do nosso futuro bem-estar social e económico.
Poder-lhe-ia ter dado para pior!!
Cavaco Silva quando era primeiro-ministro decidiu, ao que suponho após ter consultado os seus oráculos/assessores, afirmar numa televisão pública que o mercado bolsista estava muito inflacionado em termos de cotações das acções e de uma hora para a outra o mercado ressentiu-se, fazendo-se uma correcção ao longo dos dias imediatos, tendo igualmente ocorrido a perda de muitas poupanças de pequenos aforradores que viviam um pouco mais desafogadamente com os rendimentos “fáceis” que provinham das suas acções sobrevalorizadas.
O poder e a maneira como é utilizado, para o bem e para o mal, por um governante é sobremaneira importante, pois pode marcar o ritmo e o modo como um país se desenvolve.
Só que neste caso, em que se assume serem os sectores do turismo e da energia as bases do progresso, não se trata mais do que uma mera repetição do que tem sido afirmado no passado, pelo menos a espaços temporais de acordo com as necessidades.
O turismo, em minha opinião, beneficiou durante as últimas décadas de um “mutismo” completo por parte das autoridades, que apenas se deram ao trabalho de encaminhar alguns subsídios concedidos através de programas, na sua maioria de origem comunitária, para quem os solicitava.
Não me parece que tenha existido uma verdadeira preocupação com um desenvolvimento sustentado do interior nacional, baseado num verdadeiro programa de ordenamento do território tendo por base, por exemplo, a fixação das populações, o desenvolvimento das cidades interiores ou mesmo das actividades ligadas aos serviços.
Esse papel, quanto a mim, foi em grande parte desenvolvido pelas diversas instituições de ensino superior – caso das universidades e politécnicos – que permitiram uma maior qualificação das populações jovens, as quais não se fixaram na sua grande maioria no interior por não haver serviços ou indústrias onde desenvolverem a sua actividade profissional.
Romanticamente levou-se os habitantes do interior português a criarem espaços de turismo rural e habitacional, que de certa maneira e na sua maior parte não são mais do que meios de subsistência de quem os detém, advindo daí um rendimento extra à sua actividade laboral ou em muitos casos servindo como complemento de uma reforma.
O modo como o turismo é referido pelas entidades governamentais, neste momento, parece ser uma tentativa de encontrar “locais” onde colocar jovens na actividade laboral e justificar assim ter-se encontrado, desta maneira, o meio de cumprir a promessa de campanha eleitoral de criar uns milhares de postos de trabalho.
Só que, e aqui entra o outro sector de actividade em que Sócrates tenta basear todo o futuro desenvolvimento nacional, dado que o turismo depende enormemente do petróleo.
“Constipações” nos países produtores do médio-oriente – que se podem traduzir pelas constantes e mais ou menos graves crises políticas aí existentes, e entre eles e os Senhores Bush ou Blair – ou medidas levadas a efeito através da redução nos valores da produção pelo cartel da OPEP, são sem dúvida factores incontroláveis pelo Senhor Sócrates e que afectam sobremaneira os fluxos turísticos.
O petróleo ao atingir um valor da ordem dos 60 dólares por barril no decurso da última semana mostra que o seu comportamento, caso se mantenham as condições até agora surgidas (condição ceteris paribus, como se usa dizer no meu ambiente de trabalho), se manterá com tendência crescente podendo, na minha modesta opinião, situar-se entre os 90 e os 100 dólares por barril, no decurso do mês de Dezembro do corrente ano.
Neste momento, pelo que a informação televisiva nos dá a conhecer, queixam-se tanto os que deveriam ir e os que vão de férias como aqueles que os deveriam receber na hotelaria ou na restauração.
Os preços sobem de uma maneira directamente proporcional ao aumento dos mesmos nos diversos produtos energéticos e claro criam-se, por exemplo, taxas adicionais sobre os valores das tarifas dos bilhetes de viagens aéreas, que já por si tinham sido aumentadas pela existência de taxas com origem no aumento do custo da segurança, como consequência do incremento de actos de terrorismo.
Claro que poderemos sempre ter em atenção políticas que nos levem a utilizar energias de tipo renovável e que aumentem a nossa capacidade de auto-sustentação energética, reduzindo em grande parte os custos inerentes à aquisição de produtos provenientes de países terceiros.
Mesmo assim e considere-se o que se está a passar este ano em Portugal, qualquer situação de seca que nos afecte, pese embora já se ter um Alqueva, ir-se-á reflectir na necessidade de aumentar a importação de produtos energéticos de tipo electricidade.
Não quero com isto afirmar que Sócrates e os seus muchachos-governantes não devam assumir que o desenvolvimento do país não passará pelo progresso que estará inerente aos sectores ligados ao turismo e energia, pura e simplesmente assumo que seria interessante e mais seguro atribuir importância a outros sectores, nomeadamente algumas actividades afectas ao sector industrial.
Não temos sido muito felizes nos últimos tempos – acredito mesmo que isto se aplica ao contexto dos estados-membros da comunidade europeia -- que de uma maneira displicente “olharam”, por exemplo, para os têxteis como um sector de actividade onde seria impossível termos revezes e de um momento para o outro nos vimos a braços com um novo tipo de “febre amarela” sem sabermos bem como iremos resolver tal.
Criamos, a nível comunitário e nacional, entraves à importação de produtos têxteis de origem chinesa e dá-me a sensação de que ficamos tranquilos por mais algum tempo.
Aguardo ansiosamente por ver quais irão ser as medidas a aplicar à importação dos “jipes” de origem chinesa e que entraram em território nacional para venda a preços baixíssimos, pondo em causa, necessariamente, as vendas do mesmo tipo de veículos das diversas marcas já representadas em Portugal.
Novas medidas de contenção irão surgir?
A menos que façamos como o presidente do Governo da Madeira que recentemente e numa decisão pouco lúcida do único neurónio existente no seu “imenso” espaço cerebral, ameaçou mandar todos os cidadãos/comerciantes de origem chinesa, estabelecidos na ilha, para fora desta.
Nesta eu não “embarco” e se não temos unhas, que venham outros e toquem a viola!
In Correio dos Açores

JERICOS

Também conhecidos por asnos e burros, representam uma população animal que tradicionalmente se caracteriza por um grau elevado de teimosia associado ao baixo, mesmo baixíssimo, nível de inteligência.
Daí que também tradicionalmente e mais para a minha e para as gerações anteriores, fosse comum e de bom-tom educativo que os professores dos níveis inferiores da escala educativa nos “brindassem” com uma “orelhas de burro” feitas de papelão e nos colocassem num canto da sala de aula, virados para a parede, como símbolo de não inteligência.
Tratava-se, na minha opinião, de uma atitude de prepotência – representando tal um acto sádico dos professores/educadores de então perante alguém que não tinha capacidade de defesas – que bastas vezes surgia em alternativa ou acompanhada das famosas “bolachas” dadas por uma qualquer “palmatória” da mais pura e rija madeira.
Da identificação de burro, só se salvava quem progredia na “carreira” e atingia níveis de escolaridade mais avançados.
Neste momento o burro, enquanto animal, encontra-se em vias de extinção e está a ser mais considerado.
Alegra os mais pequenos que conseguem com ele “confraternizar”, sendo de especial “serviço” para o caso de acções de terapias para crianças que apresentam deficiências físicas e/ou mentais, serve para dar calmos passeios turísticos em zonas menos planas e rurais e até serve para os políticos deste País fazerem corridas na calçada do Lumiar para concluir se em hora de ponta é mais fácil subi-la utilizando um burro ou um potente Porshe.
Se surpresa para quem conhece o teimoso e pachorrento animal, foi ele o digno vencedor de tal corrida.
Não tenho dúvida que a posição mais nobre que qualquer burro conseguiu durante toda a sua existência foi no presépio, ao lado de uma vaca que tentava esbaforidamente e numa possível noite fria de Dezembro servir de aquecedor a um menino sem grande ocasião e posses para comprar roupa.
No nosso País e ao contrário do que é normalmente assumido pelo cidadão comum, os burros não são assim tão poucos.
Penso mesmo que se criou nos últimos anos, uma “jericultura” que permite que os burros não sejam mais população animal que “ande” a quatro patas – tendo esta sido substituída apenas por duas, o equivalente ao “jerico erectus” – zurrando de um modo mais “cantante” e que se assume com um cérebro cheio de ideias e que são potencialmente validas.
Lutam, em lugares especiais do tipo anfiteatro, por fazer valer as suas ideias – normalmente surgidas ao fim de muito tempo de reflexão e resultado do “choque” dos dois pequenos neurónios que possuem.
Estes “jericos erectus”, normalmente associados à pouca vontade de produzir trabalho válido, associam-se aos grupelhos partidários e lutam à dentada e coice por lugares superiores na respectiva hierarquia.
A sua teimosia e pouco discernimento leva-os a conseguirem em pouco tempo, tomarem decisões que a quase todos prejudicam e a alguns favorece.
De um modo genérico e ao nível da educação, decidem sem mais nem menos, dar oportunidade de repetirem exames a um conjunto de alunos de uma disciplina com notas baixíssimas, não assumindo que outros alunos ficaram em desigualdade de circunstâncias.
Assume-se que os encarregados da educação devem participar na melhoria do sistema educativo prevendo a sua participação na classificação dos docentes – vulgo professores – quando a experiência nos diz que estes na sua grande maioria se estão marimbando para a evolução académica dos seus educandos, tanto porque não têm tempo ou porque não se querem dar a esse trabalho.
As excepções, embora em número significativo nesta grande “massa” de encarregados de educação, só servem para confirmar a regra e bastas vezes estão associadas a alunos com sucesso académico.
Na área da saúde as burrices encontram-se associadas com a tentativa de economizar, tudo servindo para não se gastar uns trocos, independentemente das consequências.
Os mais necessitados – e neste grupo saliento os idosos – vêem-se abandonados numa altura da sua vida em que as carências são cada vez maiores e em que se encontram mais sós.
A reformas e pensões de miséria cada vez mais proporcionando menos capacidade de fazerem “frente” ao mês em que vivem, correspondem os políticos com menos comparticipações nos medicamentos, menos centros de dia de apoio ou lares.
A uma segurança social que se apregoa cada vez mais “debilitada” e carecida de grandes mudanças associa-se um conjunto de trabalhadores que beneficiam de regimes especiais – o que significa descontar menos que os outros cidadãos activos – entre os quais se encontram os membros do clero e os jogadores de futebol.
A tudo isto associam-se notícias na comunicação social diária de futebolistas que se encontram em negociações para mudarem de clube e se recusam por irem apenas ganharem 1,6 milhões de euros por ano.
O que na realidade me surpreende é a enorme “massa” de cidadãos que para além de não se manifestarem contra as benesses a nível de segurança social ainda vão para as portas e interiores dos estádios gesticular, gritar e terem ataques de coração, sem pensarem que na grande maioria ganham sete mil euros por ano e têm que sustentar a família e pagar as prestações de uma pequena casa.

Calculo que muitos foram os burros que conseguiram
In Correio dos Açores

O CAPACHO

Estou estupefacto comigo mesmo!
Ao fim de quase ano e meio de morar num prédio de apartamentos apenas hoje me apercebi que o meu vizinho de andar possui um capacho junto da sua porta de entrada.
Não que eu queira adquirir um semelhante ou mesmo igual ao do meu vizinho, mas o certo é que a constatação da sua existência me fez pensar qual o papel desempenhado por um capacho.
Um capacho é “algo” que existe para ser “adquirido” de acordo com o sentido das nossas necessidades, sabendo nós que ele está sempre lá – a não ser que venha a ser roubado por outrem, possivelmente no sentido de lhe dar maior ou melhor utilização - sempre disponível para nos servir.
Na minha óptica existem capacho dos mais diversos feitios.
Tanto quanto os consigo identificar, olhando nos diversos “locais” principalmente públicos, eles têm aspecto gordo e magro, são pequenos ou compridos, uns apresentam um aspecto mais “embelezado” do que outros, alguns estão sempre como que a dizer “bem-vindo” ou de um modo mais subjugado com um aspecto de “limpe-se aqui, estou sempre disponível”, etc…
Uns são de fitas de pano entrelaçadas e coloridas, outros são de ráfia, outros de pano ou borracha ou mesmo de um qualquer plástico mais ou menos com alguma garantia de vida útil.
Podem ser novos e de certo de tanto servirem irão ficar gastos ou podem ser velhos e na sua infinita sabedoria, de tanto servirem o “dono” ainda vão sendo utilizados perdendo a confiança do mesmo quando já não conseguem realizar o serviço pretendido e o “dono” começa a tropeçar nos seus “buracos” e se começam a esfarrapar.
O certo é que são capachos “comprados” pelas mais diversas maneiras por um qualquer “dono”.
Não passam de horríveis e meros capachos dependentes que sabem que o seu tempo de utilização é limitado e que de um momento para o outro podem ser substituídos por um outro qualquer capacho mais novo e que na oportunidade de apresenta de maior utilidade.
Um capacho é “algo” que existe junto do “dono” porque este o decidiu “adquirir” de modo a satisfazer as suas mais diversas necessidades, sendo importante que este – o capacho - na generalidade das vezes se aperceba de que tem que agradar ao “dono”.
É ele que recebe no seu “intimo”, quase sem necessidade de o “dono” se manifestar por palavras ou gestos, o sujo ou mesmo o molhado que os pés calçados lhe depositam em cima.
É ele que sabe por intimidade recolhecer a necessidade de não se manifestar contra este contacto, admitindo que ao ser servil será recompensado.
É ele que consegue distinguir se o “dono” andou pelos sítios que deveria ter andado ou se deu alguma “curva” menos própria por terrenos mais areados ou pantanosos ou mesmo se a sola do sapato direito ou esquerdo começa a tornar-se “calva” ou mesmo se já tem buraco a precisar da acção directa de algum sapateiro.
O certo é que ao ser admitido para servir o “dono” o capacho para além de lhe satisfazer algumas das suas pretensões se mantém fiel e não confidencia as intimidades, mesmo que para isso tenha de renegar a todos os seus princípios que é “limpar” todos os que nele põe os pés.
O capacho torna-se mesmo “obsessivo” no que respeita a servir o “dono”, mostrando a irritação perante terceiros quando assume que o “dono” está a servir-se de um outro qualquer capacho.
Pode mesmo torna-se perigoso e fazer a em alguém escorregar na sua beira estrategicamente dobrada, quando assume que um outro capacho consegue estar de um modo regular e por algum tempo com o seu “dono”, pois assume que o seu futuro poderá estar em jogo, podendo ser despromovido e passar a ser utilizado, numa identificada despromoção, na casota do cão do “dono” ou mesmo ser mandado de modo definitivo para o lixo.
O que o capacho mais deseja é fazer o seu serviço, de modo que o “dono” continue de tempo a tempo a utiliza-lo e a sentir que tem o seu futuro assegurado enquanto o dono permanecer no “apartamento” que ocupa por algum tempo.
A potencial mudança de inquilino no “apartamento” é algo que não deixa o capacho descansado.
Ele sabe que para além de lhe ter custado muito a adquirir aquela posição junto do “dono” – para isso teve que mostrar antecipadamente e durante bastante tempo os seus valorosos predicados – substituiu outro qualquer capacho de um outro qualquer inquilino que, tal como o dono, ocupou por maior ou menor espaço de tempo o “apartamento” onde estão.
No decurso do seu tempo de “serviço” as oportunidades foram surgindo e não só foi passível acrescentar mais alguns capachos que desempenhavam o seu serviço nas outras partes do apartamento, tendo sido possível que capachos que lhe eram familiares se tornassem parte integrante dos servidores do seu “dono”.
Enfim o sucesso!
O sucesso pelo qual tanto haviam lutado e sofrido, não só pelo entrelaçar dos seus pedaços coloridos de pano – sim no fim eram capachos apenas feitos de fitas de pano – sendo sempre de temer que o “dono” tivesse a péssima ideia de adquirir capachos de outro qualquer tipo mais valioso.
Isso seria o fim!


Ontem, como em cada ano, foi comemorado o dia da raça.
Significa isto que o País associa todos os portugueses aos feitos empolgantes praticados no passado por alguns deles e que se tornaram a personificação do orgulho nacional.
Dos feitos bélicos até à arte, passando por tudo o que é “enorme”, Mulheres e Homens deram todo o seu sentir, trabalho e vontade de modo a engrandecer Portugal, bastas vezes sem assumirem que tal lhes seria reconhecido.
Assumo que nunca, mas mesmo nunca, estes nossos mais ou menos recentes heróis consideram a hipótese de que no conjunto da raça nacional fosse possível haver uma “raça de capachos” que voa ainda mais baixo do que o crocodilo da anedota do menino da escola.
In Correio dos Açores

OBESOS

É vê-los!
Passeiam-se obesamente – vulgo inchados - na via pública, de um modo muito geral a pé, quando visitam oficialmente um qualquer lugar, procedem a uma qualquer inauguração ou mesmo quando no espaço temporal têm por “perto”um acto eleitoral.
É vê-los obesamente – mesmo que fisicamente não o sejam – prenhes da importância a que o acto público em si obriga.
Arrastam atrás da comitiva os mais diversos órgãos de comunicação social, convocados previamente por um comunicado, que interessa pouco esclarecedor, de um gabinete oficial de imprensa de governo, na busca de uma qualquer notícia mesmo que sem a mínima importância para o cidadão comum.
Só os fotógrafos estão numa posição frontal, permitindo-lhes assim obter imagens dos sorrisos previamente definidos e forçados ou mesmo dos beijos “lambuzados” de e para as criancinhas e velhinhas.
Depois é o regresso a “casa” com a sensação do dever cumprido e já no descanso de uma qualquer viatura, de preferência preta e de cilindrada digna para a posição oficial a que se propõe, pensando para com os “seus botões” que afinal a “coisa” correu bem e que nem surgiram grandes complicações – entendendo-se por tal, as perguntas mais ou menos inoportunas que o dirigente local e da mesma “cor” partidária não conseguiu controlar.
Que interessa que a obra que se inaugurou no momento só venha a ter o seu fim dali a dois anos – claro que por motivos de dificuldades financeiras, como se usa afirmar – e que já tenha vindo a “derrapar” dos últimos três planos anuais, se tudo correu bem e o povo de memória curta – pela “excitação” de ver pessoalmente os seus governantes, quais “Marcos Paulos” – tenha esquecido todas as promessas feitas no passado, principalmente em campanhas eleitorais?
De um modo geral todos se sentem felizes e até ao bombeiros, que ao fim de uma década lá conseguiram ter uma nova ambulância ficando para as próximas duas décadas o novo quartel, ou os escuteiros que conseguiram finalmente ter uma sede que já possui uma pequeníssima casa de banho unisexo, conseguiram estar presentes de modo emproado e mostrando que existem para “recepcionar” as entidades oficiais.
Até a banda de musica local e cujos instrumentos musicais na sua aquisição teve, a seu tempo, uma ajuda governativa, conseguiu produzir alguma música do esforço do interior das suas fardas a necessitarem de mais um pequeno empenho das entidades oficiais, para a sua substituição.
São as doenças do sistema governativo.
Outras existem e que eu identificaria como as doenças do sistema partidário o qual se “encaixa” num outro sistema mais abrangente e que se identifica de democrático, este em que de momento vivemos.
Este sistema democrático que encontra no sistema partidário não a sua força natural, consistente e de suporte ao seu fortalecimento, mas antes uma corpo “estranho” que a não sofrer um tratamento de choque – por o tratamento paliativo já não é possível – pode muito bem vir a torna-se moribundo porque de morte não é possível falar-se.
A democracia encontra-se fragilizada pela própria maneira de encarar a acção política, a qual sendo resultado de um voto de confiança do povo bastas vezes se “vira” contra ele mesmo, surgindo mais como uma imposição dos que conseguiram, a seu tempo, receber o voto.
Lobos envoltos em peles de cordeiros que quando “surgem” e têm a certeza no resultado do seu acto de atacar, o fazem da maneira mais fria que lhes é possível e tudo a bem de “algo” que por vezes de muito difícil de identificar até nem pensamos – nós o povo – no que nos estão a fazer.
Depois é vestir novamente a pele de cordeiro, de preferência previamente lavada numa qualquer lavandaria local, de modo que de tão alva nos ofusque de promessas novas ou mesmo repetidas em qualquer período eleitoral.
E a estória irá repetir-se e muitos de nós, de um modo mais ou menos masoquista, iremos admitir muitos dos momentos sádicos que a governação irá novamente mostrar.
No entretanto e em minha opinião, outros grupos de obesos são constituídos.
São obesos do tipo camaleão, que mudam de posição partidária de acordo com as necessidades de se servirem a si próprios e com o fito de sobreviverem no nível sócio-financeiro que previamente tinham.
São os obesos que se identificam com a “lei da rolha” – por muito que os tentemos “afogar” eles sobem sempre à superfície e não há machado que “corte” estes obesos camaleónicos.
São os obesos partidários, uns gordos por si mesmo e para os quais não há “dieta” possível, outros inchados pelo momento mais ou menos efémero mas empolgante que vivem.
Quaisquer um deles quase não conseguem “caber” nas cadeiras de chefia pública que lhe foi destinada, mostrando apenas a sua incompetência perante os funcionários que de um modo geral – pertencendo ou não ao mesmo ramo partidário – se riem ou mesmo lhes conseguem adaptar qualquer anedota mais em voga ou no seu sentido “máximo” conseguem mesmo inventar uma nova.
Os obesos “inchados” sentem que a sua situação não é a mais segura pois qualquer alfinetada de um hierárquico superior partidário, perante uma atitude mais ou menos consentânea com o esperado, pode esvaziar o seu conteúdo, qual balão que se fura.
Mostram todos, neste conjunto de obesos, uma tendência para não fazer “ondas” de modo a não desagradar, uma preocupação de que os superiores a nível partidário sejam bem servidos e que tenham atitudes que lhes permitam – nem que seja no período antes das eleições – mostrar publicamente que nós não seremos nada sem eles e que devemos confiar-lhes o nosso voto por tudo o que (não) fizerem ou fizeram (menos) bem, para que o seu posto de “trabalho” esteja garantido.
Para todos os efeitos, mesmo que reconheçam que nós outros temos razão ou que consigam ver, o que seria uma verdadeiro milagre, que o “rei” vai nu, sabem que não o devem admiti-lo pois isto seria o seu passaporte para uma vida menos privilegiada.
E eles não o querem, porque muitas vezes tal seria um retrocesso, quer por voltarem aos seus insignificantes lugares de trabalho quer porque ficariam ao mesmo nível dos antigos funcionários que chefiaram de modo mais ou menos despótico e sem que se lhes possa atribuir nota positiva ao seu desempenho.
No entretanto a democracia encara a situação de quem governa e de quem é oposição de um modo sádico. Aos primeiros, embora se deva admitir que tal não deve existir, dá-lhes a possibilidade de que governa, tirando aos segundos estas hipóteses.
Quem governa pode mostrar trabalho – o que é justo se ele servir o povo e estiver bem realizado – apresentar as mais esfarrapas desculpas para o que não fez ou fez mal, lançar primeiras pedras, inaugurar “atabalhoadamente” edifícios, fontanários, troços de estrada, etc…financiar festas e festanças (com ou sem “condimentos” abrasileirados), promover a sua visualização ou mesmo uma distribuição oficial de beijos lambuzados, etc…etc…
Embora possa admitir que me encontro dentro do grupo obeso, em sentido lato da palavra, tenho a certeza de que, tanto eu como muitas das pessoas que conheço em idênticas circunstâncias não se conseguem incluir no grupo desta obesidade neuronial, que é doença muito em voga nos políticos e afins.
Obesos para quê e porquê, se nem conseguem que a democracia que assumem assuma todos os cidadãos com igual oportunidade, assumindo preferencialmente e quando muito os grupos mais em risco, como são as crianças, os velhos e os excluídos socialmente.
In Correio dos Açores

Monday, July 30, 2007

POLITICOS PRECISAM-SE

É me fácil identificar pelo menos uma das razões, quiçá a mais importante na minha opinião, que levou José Sócrates, enquanto presidente do partido socialista, a não apoiar o seu camarada Manuel Alegre na decisão ponderada de se candidatar à presidência da República, nas últimas eleições.
É me igualmente fácil concluir porque motivo o presidente do partido socialista, de seu nome José Sócrates, tomou a decisão de que se apoiasse a candidatura de Mário Soares, aquando do mesmo acto eleitoral.
Soares representava o passado, a bonacheirice, o último cantar do cisne e a quase certeza da atitude de aceitação, perante qualquer que fosse a actuação do então primeiro-ministro.
Alegre representava a novidade individual eleitoral, a certeza de que o socialismo ainda era assumido como algo importante e localizado à esquerda no espectro político e a incerteza de aceitação de muitas das decisões politicas a que Sócrates já tinha dado “corpo” e que nada tinha a ver com os princípios orientadores do passado socialista.
Depois, certo da sua decisão e no pressuposto que confirma as mais recentes actuações a raiar a arrogância – de que não tem dúvidas e de que quase nunca se engana – assumiu que se Cavaco saísse vencedor do acto eleitoral não iria, de modo algum, querer mostrar atitudes de retaliação/vingança, na medida em que sempre se havia identificado como pertencendo ao partido social-democrata e a co-habitação politica, de certo, iria decorrer em “águas mansas”, sem qualquer problema de “afundamento” como havia sucedido a Santana Lopes perante Jorge Sampaio.
Entre Alegre e Soares a preferência “socratiana” era Soares; entre Alegre e Cavaco a sua preferência iria para Cavaco.
O tempo se encarregou, na realidade e em consequência do que tem vindo a ocorrer, de mostrar que se houve um verdadeiro vencedor/beneficiado no acto eleitoral para presidente da República de então, esse politico foi José Sócrates e os “muchachos” que o acompanhavam no governo.
Porquê?
Mário Soares eclipsou-se (depois de descorar a sua preparação para as intervenções de campanha, por se considerar superior a tudo e todos, de se mostrar arrogante e de dizer uns quantos disparates em campanha) e Cavaco Silva, após a tomada de posse e até este momento vem caracterizando a sua presidência pelo receio de o identificarem, nas suas atitudes decisórias, com o partido de que pediu a suspensão e tenta mostrar algum “trabalho” dando aos portugueses, fundamentalmente através dos médias, a ideia de que nem tudo está bem e que eles merecem mais, sem acrescentar nada de positivo para o nosso futuro, nem mesmo conseguir identificar o que é que nos merecemos mais.
Ainda não consegui entender, talvez culpa dos meus dois neurónios – o Tico e o Teco - se Cavaco quando afirma isso quer dizer que merecemos “mais do mesmo” ou “mais de menos” ou “mais de mais”.
Adoraria que um destes dias ele, o presidente da República que identifico na sua vida politica e publica como o homem dos tabus, fosse mais claro para possibilitar algum descanso aos meus neurónios.
No entretanto uma das vozes, de entre os políticos, mais discordante da falta de decisões politicas coerentes e socialistas, nomeadamente no aspecto social, é de facto o candidato vencido Manuel Alegre.
Estou certo que José Sócrates, na altura que decidiu não apoiar o seu camarada de partido Manuel Alegre, identificava nele um opositor firme a muitas das suas actuais politicas.
Perdeu-se de certo um bom e coerente presidente da República, não se perdeu um socialista que sendo vice-presidente da assembleia da República, não sente pejo em criticar coerentemente nas atitudes de José Sócrates, enquanto primeiro-ministro de Portugal e todo o elenco de governantes.
A confirmá-lo está, neste momento, a actuação de Manuel Alegre ao criticar o governo e todos os seus apoiantes mais directos (e temporariamente fieis ao chefe) de actos de governação que deixam muito a desejar e que até já mereceram reprovação de outros intervenientes políticos, nomeadamente deputados e individualidades afectas ao partido socialista.
Tem sido no entanto Manuel Alegre que mais tem dado a cara em termos de repudiar algumas atitudes governativas, nomeadamente no que concerne a censura que se pretende instalar no País, o sentido de delação, o oportunismo inerente ao carreirismo pelo pagamento do empenhamento em politica partidária, o desespero de doentes e em sentido genérico de todos os portugueses que, em cada mês que passa, se vêem mais limitados nas suas capacidades de satisfazer os seus compromissos financeiros e perante os filhos menores, a arrogância com que se afirma ter-se criado emprego continuando a taxa do mesmo a subir devido à entrada de novos activos, no modo como se pretende controlar o funcionalismo publico, entre os quais se salienta a classe docente, a prepotência governativa de criar processos e/ou aplicar sanções, etc…
É de facto Manuel Alegre que neste momento personifica a oposição ao regime, enquanto a verdadeira oposição partidária se encontra “perdida” nas suas lutas internas.
No que respeita o partido social-democrata está a braços com directas para a possível substituição de Marques Mendes, prometendo os seus opositores fazerem “mundos e fundos” caso venham a “instalarem-se” no lugar de presidente do partido e Paulo Portas, após ficar traumatizado com o resultado do acto eleitoral para a autarquia lisboeta, disse que ia reflectir, possivelmente em como será possível partir ainda mais o partido, já de si partido.
Ambos os partidos estão de facto a assumir que já não faz sentido identificarem-se como sendo de centro-direita, na medida em que o partido socialista ocupa neste momento, pela actuação politica dos seus governantes, este lugar.
Os direitos sociais que os portugueses conquistaram nas três últimas décadas ou mesmo o sistema de saúde resultante de um trabalho fundamentalmente dos partidos afectos ao espectro político da esquerda, estão postos em causa e a própria democracia não tem qualquer sustentabilidade.
As últimas eleições autárquicas para Lisboa foram o teste de como os portugueses se encontram saturados da política, não só pela elevada percentagem de abstenção, mas igualmente por terem confirmado através do voto o papel cada vez mais importante que as candidaturas independentes vêm desempenhando.
Os grandes derrotados foram de facto os dois maiores partidos nacionais e até Carmona Rodrigues, depois de segundo consta ter feito tanta asneira ou de não ter feito nada no seu mandato, conseguiu “arrastar” um número significativo de votantes.
In Correio dos Açores

Monday, July 23, 2007

O FAZ-DE-CONTA

Na passada sexta-feira foi dia de debate mensal na assembleia da República.
É suposto que os líderes e respectivos deputados dos partidos da oposição, frente a um primeiro-ministro e respectivo governo, questionem o estado em que se encontra a Nação, resultado das acções politicas efectivamente concretizada pelos governantes.
Os partidos de oposição encontraram um elemento comum que me parece ser fundamental debater, quer no hemiciclo quer na comunicação social ou mesmo em encontros de especialistas, e que respeita à liberdade existente neste momento em Portugal.
O que se vem sucessivamente a verificar no último ano é uma cada vez maior falta de liberdade, podendo ser esta identificada em diversos aspectos da vida diária dos portugueses, pondo em causa a democracia como ela deve ser entendida na sua essência.
Muitos de nós cidadãos – arrisco-me mesmo a dizer que quase todos aqueles que tem actualmente menos de trinta e cinco anos, estando aqui incluídos alguns dos actuais deputados – não conheceram, por terem vivido, o que é a falta de liberdade e tudo o que com isso se relaciona.
O mais perto que estiveram/estão de tal é através da comunicação social, principalmente conhecendo as notícias do que politicamente ocorre em certos países com ideologias musculadas e caracterizadas pela falta de respeito pelos direitos humanos.
Entre nós têm sido muitos, e de certo serão cada vez mais, os casos em que os cidadãos são confrontados com o “quero, posso e mando” de um governo que consegue fazer parecer que tudo é normal, mas que nem se preocupa em apresentar os acontecimentos das diversas situações, como sendo pura coincidência.
Não há qualquer preocupação em apresentar justificações porque, como o primeiro-ministro sabe muito bem, não se consegue justificar aquilo que não tem qualquer justificação plausível.
A melhor maneira, reconheço, é mostrar arrogância perante os opositores – tanto mais que, no caso do hemiciclo, existe uma quantidade de monos clones de tipo “socratezinhos” que na impossibilidade de não aplaudirem o “chefão” Sócrates, lá o vão fazendo sem qualquer convicção e na expectativa de num momento oportuno apoiarem outro ou mesmo ocuparem o “trono”.
Foi assim com todos os que ocuparam cargos políticos deste tipo, como foi a caso de Ferro Rodrigues; é assim neste momento com Marques Mendes e será assim no futuro próximo ou longínquo.
Apenas os “parasitas” que acompanham sempre o líder, qual sanguessugas que vivem do trabalho de outrem, vão ter que fazer o “golpe de rins” – o que até pode nem ser novidade para os mesmos – de modo a não perderem o estatuto de que usufruem.
Depois é o esquecimento do anterior líder!
Quem se lembra de Ferro Rodrigues, por exemplo, senão alguns e pela negativa, que dependendo dele então ainda não conseguiram recuperar o que politicamente tinham?
Por incrível que pareça Cavaco Silva, numa de presidente de todos os portugueses e acima de tudo o que é partidos, afirma que Portugal deve “pensar-se como uma democracia madura”.
Como podem os portugueses assumir que tal é verdadeiro se o ministro da saúde exonera, sem qualquer razão, a directora de um centro de saúde para dar o lugar a um incompetente – que já falhou um exame de concurso de promoção – para o seu lugar e por coincidência é membro do partido socialista; ou mesmo a arrogância com que se expulsa a presidente da associação de matemática de um grupo de trabalho a nível nacional por esta ter criticado a ministra; o mesmo acontecendo com Charrua, o professor do norte do País, por ter feito anedota com a anedota da licenciatura de José Sócrates; ou mesmo o que se passa actualmente com a intenção de controlo sobre a actividade jornalística; ou mesmo os incríveis e ridículos disparates reportados ao ministro OTA(rio) ou ao ministro da economia, ambos com intervenções que nem os “velhinhos” dos Marretas conseguiriam igualar.
Instalou-se o medo da perda de emprego, da denúncia, do favoritismo, do comentar, do participar em manifestações e do vaiar, pois até isso o primeiro-ministro identificou, no debate na assembleia da República, como não sendo “bonito para a sua pessoa”.
Entretanto e no que respeita o estado da economia nacional vai acrescentando que tudo está melhor e de tanto o afirmar, qual mentiroso compulsivo, até acredita que é verdade o que transmite.
Afirma que criou quarenta e um mil novos empregos, muito longe da mete que referiu ir atingir aquando da sua campanha eleitoral, não conseguindo reparar que a taxa desemprego não baixa e que muitos destes empregos são trabalhadores em regime parcial de tempo, muitíssimos dos quais em regime de recibo verde, o que significa insegurança.
Ou mesmo que a taxa de crescimento da economia é positiva, mas não considera que se situa a nível abaixo dos dois pontos percentuais ou que a diferença que poderia ser efectiva para o desenvolvimento da economia portuguesa se poderia fazer pelo investimento, que de modo algum se pode considerar como estando em fase de crescimento, podendo-se apenas admitir que está a ter decréscimos menos acentuados.
Com um retoma tendo por base o crescimento das exportações e a diminuição dos valores importados – fugindo à tragédia anunciada, dos anos noventa de Guterres, que baseou a retoma no crescimento do poder de compra nacional – José Sócrates poderá ver tal situação invertida em consequência de um euro cada vez mais forte ou à necessidade que terá em 2009, período de novas promessas eleitorais, de “abrir os cordões à bolsa” e aumentar o poder de compra dos cidadãos nacionais, com o consequente possível aumento da inflação e das exportações.
2009 é sem dúvida o momento por que devem esperar os portugueses, pois se tudo correr como é usual teremos o “cinto mais folgado” e poderemos, caso tenhamos consciência do que se passou com a maioria do partido socialista neste mandato, fazer José Sócrates governar sem maioria absoluta.
Mais do que ver José Sócrates perder as próximas eleições legislativas – até porque com a qualidade da oposição que tem, tal me parece muito pouco provável, senão impossível – gostaria de ver a “arrogância” dele como primeiro-ministro de um governo sem maioria absoluta.
Aí sim, é que veríamos a verdadeira qualidade do seu trabalho e não teríamos de o ouvir afirmar, como o fez recentemente, que foram aprovadas dezenas de propostas do seu governo, por parte da assembleia da República, esquecendo que apenas pelo facto de ser maioria absoluta.
Com estes politico-dependentes todos a bajularem-me até eu conseguia ser primeiro-ministro.
In Correio dos Açores

Monday, July 16, 2007

BARALHADOS

Depois de nos últimos tempos e por várias vezes ter sido vaiado publicamente pelos cidadãos que governa, nomeadamente aquando da sua presença no estádio da Luz para a festa da Gala das Sete Maravilhas, José Sócrates, enquanto primeiro-ministro, de certo começa a aperceber-se que a sua popularidade tende a cair cada vez mais.
Esta – a vaia – é de certo, para além das sondagens não encomendadas pelos interessados e que lhes dão em geral situações favoráveis, a melhor e mais popular maneira para “medir” a aceitação dos governantes pelos governados.
A preocupação - senão do primeiro-ministro perdido em “organizar e governar”, por um semestre, a Europa comunitária - é apanágio de todos aqueles que gravitam à sua volta e dele dependem para o exercício dos cargos públicos que detêm e que necessariamente são limitados num maior ou menor espaço temporal.
Sócrates não suporta qualquer tipo de critica, venha ela de onde vier, tem a sensação – como Cavaco Silva – de que raramente, ou mesmo nunca, se engana e que o seu desígnio é de facto ser o maior entre os maiores, mesmo que o aspecto social, tão caracterizados dos fundamentos socialistas, esteja a ser colocado, bem fundo, na gaveta.
Tornou-se pois possível, neste país democrático, proceder a uma recente inauguração de uma ponte em que a cerimónia foi propositadamente dividida em duas partes.
A primeira durante a parte da manhã em que as entidades oficiais, entre as quais o primeiro-ministro, procederam oficialmente à inauguração da dita travessia do rio e uma segunda, no decurso da tarde, em que os cidadãos fizeram a festa e deram início à utilização da mesma.
E tudo isto apenas porque estava previsto, caso o povo estivesse presente no acto oficial da inauguração, mais uma enorme vaia demonstrativa da opinião que presentemente possuem dos seus governantes.
Evitou-se assim mais um dissabor para o primeiro-ministro, manteve-se o seu ego intacto e os dos seus fiéis servidores.
Claro que a empresa construtora aceitou a inauguração por duas etapas, na medida em que precisando de executar mais obras públicas, não pode de modo algum, correr o risco de desagradar à “governança”.
Infelizmente o respeito, que deveria ser apanágio dos governantes pelos seus co-cidadãos, independentemente de por vezes ser necessário tomarem-se medidas mais controversas, está cada vez mais longe de ocorrer.
São numerosas as atitudes assumidas pelos governantes que se podem caracterizar como sendo do mais puro autoritarismo - fundamentalmente resultado da existência de uma maioria absoluta obtida aquando do último acto eleitoral – que permite situações do “quero, posso e mando” que não se coadunam com uma verdadeira democracia, que todos pretendíamos aquando de 1974.
Situações de força, colocando uns contra os outros, demonstrações de desprezo perante terceiros e mesmo instituições – nomeadamente comunitárias, como é o último caso do imposto de circulação, que foi considerado ilegal e cujo valor o governo afirma não ir devolver por considerar legal tal taxa – ou perante acções de grevistas, que sendo consideradas atitudes legais são minimizadas nas suas consequências, ou o desprezo pela saúde humana em termos de encerramento de unidades de apoio à saúde ou mesmo, pelo caso recente, das juntas medicas que obrigaram cidadãos a trabalhar, estando estes praticamente às “portas da morte”, não podem ser considerados actos lúcidos de governantes, que se assumem como democratas.
Escolas encerradas e numerosos alunos, alguns dos quais de “tenra” idade, obrigados a percursos e condições de viagens difíceis – muitos dos pais nem carros têm para os transportar – exames de matemática, de acesso às Universidades, que permitem “corrigir” o número elevado de reprovações do ano anterior por serem muito menos exigentes - no ano lectivo vindouro será de certo a vez de se facilitar a avaliação nos exames de matemática do 9º ano, dada a taxa de reprovação de cerca de 75% do corrente ano – e tudo numa Europa cada mais competitiva e em que a valorização pessoal é assunto sério para os governantes.
Por seu turno a famosa idade de reforma, que vai tendo tendência para aumentar encontrando como justificação o facto do sistema social se encontrar em (quase) falência, permite não só a degradação natural dos serviços – fundamentalmente pela participação na actividade laboral de trabalhadores desmotivados e/ou apenas expectantes de se reformarem - impossibilitando a entrada de muitos jovens que procuram primeiros empregos, numerosos deles após obterem graus de licenciatura ou outro tipo de formação, e que poderiam trabalhar com salários muito inferiores procedendo igualmente a descontos.
Mas o sol não se consegue tapar com uma simples peneira e assim sendo, no sentido de dar a imagem de que a taxa de desemprego não é tão elevada, vai-se criando programas e mais programas, pagos pelo próprio erário público, que permitem ocupar esta juventude que custa a ter futuro.
Tudo parece sustentado com “linhas”, das mais fracas que possamos imaginar, e apenas o famoso défice orçamental é que interessa, mesmo que este não consiga ser controlado através da redução da despesa e o nome dos grandes, mesmo muito grandes, devedores ao fisco ou o próprio crime financeiro em larga escala, continuem passivamente a aumentar em vez de diminuir.
A oposição?
Parece, em minha opinião, ter ido para férias desde a altura que, não cumprindo a promessa feita aquando da campanha eleitoral para as últimas legislativas, José Sócrates admitindo que não conhecia a realidade do país decidiu proceder ao aumento dos impostos.
De tempos a tempos o maior partido da oposição - que por este andar nunca será governo se não se verificar, por parte dos eleitores, um cartão vermelho a José Sócrates no próximo acto eleitoral legislativo – através de Marques Mendes envia-nos, do alto do seu metro e meio de altura, missivas como aquela que surge agora em “outdoors” e que chama a atenção para os funcionários públicos que tiverem queixas do governo ou por este forem prosseguidos, poderem contar com o partido social democrata para a sua defesa.
Se não fosse tão ridículo, até dava a ideia de termos uma oposição que consegue de facto exercer a sua função de oposição.
Cada um merece aquilo que tem, quer em termos de governo quer no que respeita à oposição ao mesmo.
Deparei no decurso da corrente semana um anúncio na comunicação social regional diária que mostra como estamos de espírito. Na secção de lazer dos anúncios classificados e no meio de uma dúzia de potenciais serviços, a prestar no local de actividade ou ao domicílio, por “trabalhadoras” do sexo, surgia uma anúncio para venda de um… jazigo.
Baralhados? E muito!!
In Correio dos Açores

Monday, July 9, 2007

DESCUBRA AS DIFERENÇAS

Fica-me a ideia, de tudo aquilo que consegui me aperceber durante as últimas décadas a partir da “famosa” revolução dos cravos, que o poder democrático corrompe nas suas mais diversas formas e tanto ou mais do que na situação com que conseguiram “brindar” alguns de nós num passado, que de certo muitos ainda nos lembramos, de autoritarismo.
A situação do antes 1974 resumia-se muito simplesmente a que o futuro era de alguns identificados facilmente através da definição de “classe privilegiada” - que incluía não só governantes, como deputados, grandes detentores de capital e “capachos” em geral – ficando depois, na hierarquia, mas muitíssimo abaixo, os cidadãos trabalhadores que para além de “esmolarem” salários e viverem mensalmente até ao último tostão/cêntimo, pouco mais conseguiam.
O Estado, que se apresentava como protector do cidadão, conseguia dar de tempos a tempos um ar da sua graça e “presentear” a pobre massa anónima com pequenos aumentos salariais – como era o caso dos funcionários públicos – mas sempre abaixo da inflação, para que não se pensasse que o Estado tinha dinheiro para esbanjar e/ou não permitir que se criassem condições de vida que levassem a populaça a assumir que o futuro seria melhor.
Nada de ilusões, pois as fadas a existirem só revelam a sua malvadez!
No caso dos trabalhadores por conta do Estado havia apenas a segurança do posto de trabalho, que se assumia ser para a “vida eterna”, a não ser que se cometesse algum ilícito verdadeiramente “ilícito”.
Depois era usual associar a vida aos três F’s – Fátima, o aspecto religioso, protector e miserabilista; Futebol, o aspecto da alienação de quem não praticava desporto e Fado, a interpretação de músicas e letras devidamente choradas e associadas à palavra saudade e destino.
De sindicatos e partidos da oposição estava a governação livre e quando estes existiam, na sua grande parte na clandestinidade, pouco ou nada havia a temer pela parte dos governantes, pois existiam sempre a denuncia e a censura que muitas das vezes era penalizante, tanto mais que se poderia transformar pela ausência total ou parcial em reclusão.
A pobreza apresentava características de premeditação e era originada pelas enormes dificuldades criadas pelos então governantes e alienados seguidores, sobejamente apregoada pelos detentores do poder, material e espiritual, como algo que poderia ser saudável para a vida do dia a dia dos portugueses.
Nas infra-estruturas hospitalares, portuárias, aeroportuárias, rodoviárias, escolares, etc...a situação era deficitária e necessariamente do tipo “quanto baste”, sendo o nosso afastamento relativo aos outros países europeus uma realidade.
O povo de “feliz” que estava nem se atrevia a manifestar e a pouquíssima comunicação social que, honra lhe seja feita, se atrevia a levantar, mesmo que superficialmente, alguns dos existentes problemas era devidamente aconselhada a “esquecer” tal, quanto mais não fosse através do celebérrimo “lápis azul” da censura.
Havia no entanto uma certeza, a de que apenas funcionava no país uma universidade privada de enorme qualidade, e de que quando se tinha um título obtido numa universidade localizada em Lisboa, Porto ou Coimbra, o mesmo era a “valer”, sem necessidade de se “correr” várias universidades, na escala descendente da qualidade e exigência, ou destas trabalharem ao domingo.
Titulo era título e dava a cada um, logo que completado o período escolar normal de cinco anos, a habilitação académica de “licenciado em…” que permitia trabalhar e aprender na vida prática.
Do presidente de conselho de ministros, o que equivale hoje ao primeiro-ministro do governo, nem vê-lo!
Apenas na televisão, a partir da altura em que esta iniciou os seus primeiros passos no país, de tempos a tempos e quando muito, nos celebérrimos documentários com que a produção lusa cinematográfica iniciava a sessão nos vários cinemas nacionais – que também não eram muitos – e em que se fazia a apologia do trabalho dos governantes e/ou dos esforço dedicado de trabalho dos assalariados e/ou mesmo da incrível guerra colónial que o país sempre foi “ganhando” nos vários documentários que fazia para português acreditar.
Povo feliz lá ia “cantando e rindo” como lhe “ordenava” um dos hinos da então mocidade portuguesa, a que quer queiramos ou não pertencíamos todos aqueles que abeiramos ou já fizemos metade de um século de vida.
Parece que o então primeiro choque petrolífero, que ocorreu em 1973, conseguiu “despertar” os portugueses para a situação em que viviam e como o futuro se encontrava limitadíssimo, dando origem a uma mudança de regime, atribuindo-se ao novo, que surgiu após o dia nacional revolucionário, o nome de democrático.
Presentemente onde pára José Sócrates? Numa Europa comunitária em que não tem maioria absoluta, vendo consequentemente e sem saber governar nessa situação suas posições fragilizadas por uma recente entrada Polónia, tomando nós conhecimento, de tempos a tempos, através da comunicação social que ele existe e é primeiro-ministro de Portugal, sendo a propaganda “enviada” pela imagem de reuniões, apertos de mão, corriditas, etc…
A pobreza instalou-se e para além de “ferir” gravemente a vida diária dos portugueses – neste momento cerca de 40% do conjunto das famílias nacionais, o que é muitíssimo, não têm de pagar o imposto denominado IRS, podendo-se assumir como famílias “isentas” deste dever tributária porque nem atingem um somatório de rendimento anual que as obrigue a pagar este imposto – subjuga, criando medos sobre o futuro, a delação é mais ou menos directamente apoiada e existem processos instaurados a simples contadores de anedotas sobre os governantes, sendo mesmo possível o saneamento de uma responsável hospitalar, feito directamente pelo ministro da tutela, por se escusar a acatar uma estúpida ordem do mesmo.
A vida torna-se mais difícil quer para as crianças quer para os idosos quer para as famílias pelo encerramento de escolas e de centros de saúde e apoio hospitalar, pela falta de jardins-de-infância/creches e centros diários e/ou lares de apoio para a terceira idade, pelos custos sempre ascendentes nos livros escolares, na alimentação, nos transportes e no próprio vestuário, mesmo que comprado na oportunidade em saldos.
O medo de perda do posto de trabalho invalida a participação activa de milhares de trabalhadores em greves, que têm o seu devido fundamento, e as próprias uniões de trabalhadores quase parecem estar novamente na clandestinidade, para não se referir uma oposição fraca, atabalhoada e que de tempos a tempos dá um “ar da sua graça”, permitindo-nos saber que ainda existem.
O aumento do número de privilegiados que de “espinha” dobrada vivem em simbiose à “sombra” da governação, o poder económico de alguns tantos que, não deixando de crescer em euros, fazem sentir o mesmo sobre os decisores políticos – fazendo-os por exemplo, depois de decidirem, voltar à estaca zero da construção de um aeroporto ou de um comboio rápido – ou o constante “é e não é” de decisões tomadas sempre a bem do povo.
No conjunto, como no passado, os opositores a sério sobressaem fundamentalmente do seio do partido ou da representação parlamentar no poder, e têm nomes como Alegre, Soares, Jorge Coelho, Francisco Assis, Ana Gomes e muitos outros que sabendo o que é democracia não se conseguem enquadrar nas decisões do governo socialista de José Sócrates.
De certo continuarem a viver no futuro com os três famosos F’s, só que talvez devamos acrescentar mais um, que de certo deve ser de Falência total do sistema democrático.
In Correio dos Açores

Tuesday, July 3, 2007

OS MAL AGRADECIDOS

Caríssimo primeiro-ministro, cidadão engenheiro José Sócrates – peço imensa desculpa se me enganei no título, mas com toda a confusão surgida à volta deste assunto e com a falta de esclarecimento, que espero ocorra pelo menos na próxima década do presente século, sinto-me inseguro como devo proceder – quero participar-lhe o meu mais vivo repúdio pelo modo como o vêem tratando nos últimos meses.
Após um período de encantamento, no qual na realidade tive imensa pena de não participar, parece-me agora que, os mal agradecidos cidadãos deste país, estão de facto a saber o que é fome - percebo a sua intenção que era no sentido de haver menos obesos – o que é salários difíceis de chegar ao fim do mês – o que permite, e muito bem da sua parte, que as famílias gastem demais – o que…o que…
Ele são altos gritos, comentários em surdina, gestos menos bonitos, assobios de protesto e até esgares do mais puro e profundo desprezo, os quais “contracenam” com as outras vozes menos gritadas e quase melodiosas, gestos de amizade, assobios de apoio e olhares benevolentes dos seus já poucos mas “eternos” (pelo menos enquanto tiver poder e/ou não surgir uma alternativa válida no partido), cegos, surdos e mudos, quais macacos, seguidores.
Tudo serve para destabilizar a governação nacional socialista, que tem vindo a protagonizar, tendo em vista o engrandecimento do país e o bem-estar deste tão mal agradecido, mas indubitavelmente humilde, povo.
Por fim não faltam as sondagens, negativas ainda por cima, que surgem e que permitem concluir, de certo concorda comigo, que o povo é na realidade muito mal agradecido e que está insatisfeito.
Brada aos céus, como se usa dizer.
Insatisfeitos com o primeiro-ministro e com os governantes seus ministros, que tal como a grande maioria dos trabalhadores portugueses, neste momento “trabalham a contrato por tempo incerto”, podendo de um momento para o outro perder o “tacho”.
Como é possível ser-se tão ingrato e não perceber que estes senhores, que trabalham imenso para o nosso bem-estar e que na sua quase totalidade aceitam estes lugares – em que são “obrigados” a receberem belíssimos salários, usarem carros topo de gama, incluindo condutor, a engordarem em almoços e jantares, a viajarem continuamente e outras mais benesses – em prejuízo dos ordenados e regalias que tinham na sua vida ante-governamental.
São muitos os que até nos esclarecem amiúde e publicamente que “são prejudicados financeiramente por aceitarem os cargos”, outros que os “aceitaram pelo povo” e sentido de “dever público”.
Daí vê-los tristes e trôpegos de pensamentos, não sendo difícil encontrar alguns tantos que quase só dizem asneiras, em espaço nacional e internacional e a ritmo acelerado, assumindo até comparativamente com o que lhes vai dentro das respectivas “cabecinhas” pensadoras, por exemplo, que a sul do Tejo só há deserto.
Então não tem v. exa. e todas as excelências que o rodeiam – neste momento surge nas minhas recordações o programa televisivo que nos dava o essencial do ridículo que é a governação e que tinha por nome “Sim Senhor Ministro” – trabalhado, por exemplo, a saúde (refiro-me ao sector e não às corriditas que v. exa. dá em território estrangeiro e que surgem na comunicação social, como se tratasse de algo que não fossem capazes os seus concidadãos e tendo por fim mostrar um governante de tipo atlético e como se isso fosse extremamente importante para o desenvolvimento do país), aumentando a probabilidade dos portugueses morrerem à procura de um sítio para receberem ajuda médica, ou mesmo de se ter um parto dentro de uma ambulância que percorre quilómetros antes de encontrar o destino.
Em minha opinião, fez v. exa. muito bem, pois assim possibilita a homenagem sempre devida aos nossos bombeiros, pois é bem provável que ocorrendo o parto na ambulância os progenitores da criança lhe atribuam o nome do bombeiro parteiro, evitando assim mais medalhas no 10 de Junho.
De igual modo tem possibilitado a incomensurável alegria a milhares de cidadãos de, apesar de terem descontado durante décadas para aquilo que vulgarmente se define como reforma, irem trabalhar até aos 65 anos e terem uma menor probabilidade de gozarem o seu período de reforma, porque o espaço temporal entre esta e a ocorrência do seu falecimento é menor, ficando apenas com a alegria defunta de terem contribuído para o equilíbrio das contas da segurança social nacional.
Como é possível que os mal agradecidos dos meus concidadãos não percebam e não dêem valor a todas estas beneméritas decisões?
É necessário que eles reconheçam, por exemplo, que o controlo feito através da denúncia de colegas devidamente incentivada e justificada por um responsável deste país – caso, por exemplo, do professor do norte que contou uma anedota acerca do primeiro-ministro – ou mesmo a exoneração da directora de um centro de saúde que se recusou a obedecer ao ministro da saúde e não retirou um cartaz, afixado por um colega que assumiu tal facto, e a sua substituição “casual” por um membro do partido socialista.
Estas atitudes de denúncia ou de abuso nada tem de negativo, segundo depreendo dos vários comentários, e apenas se reflectem positivamente quer para quem denuncia quer para quem governa; mas que mal tem isso?
Outra situação incompreensível são as greves.
Surgem de um modo tal vilmente proposto e como protestos a esta vossa formidável governação - também os seus congéneres na governação afirmam que não percebem a intenção – e só podem vir de mal agradecidos que não conseguem vislumbrar ou mesmo sentir o quão agradável é trabalhar sem progressão ou aumentos salariais, sem futuro, ser objecto de avaliação sem qualquer sentido ou mesmo perder regalias obtidas no passado.
O mal começa logo na altura do programa eleitoral, pois estes mal agradecidos nem se apercebem da “trabalheira” que é elaborar um documento inserto de numerosas promessas e depois da vitória ter de se alterar o mesmo, por exemplo, aumentando impostos logo imediatamente e em total desacordo com aquilo que se havia proposto antes e “apenas” para cativar eleitores.
Mas os mal agradecidos deste país nem assumem que os nossos governantes de um modo estóico – mostrando que se diferenciam dos outros governos anteriores - constituem listas públicas de devedores ao fisco e à segurança social, resultando daí apenas que continuam milhões de euros em dívida (o que dá ideia de que as pessoas referenciadas não se interessam minimamente por tal), sendo no entanto a denominada arraia-miúda, com dívidas de poucas dezenas de euros, que é ameaçada de penhoras e acaba por as pagar.
O esforço demonstrado pelos governantes, claro sempre a nosso favor e não reconhecido, faz-se sentir no TGV (sempre chegamos atrasados a tudo e não me parece que a coisa melhor pela rapidez da deslocação), na localização do novo aeroporto (já temos dez estádios de futebol, porque não dez aeroportos novos), na confusão existente no sector do ensino, etc..
E por onde anda o nosso primeiro-ministro?
Em viagem a preparar, com as supremas qualidades que os mal agradecidos deste país não lhe reconhecem, a presidência europeia.
Talvez um dia destes nos cruzemos!
A minha esperança reside na descoberta de alguns cientistas estrangeiros de que a Via Láctea está em plena hora de almoço e se encontra a engolir outras galáxias.
A Terra estando na órbita de Saturno, como tudo indica, tem enormes possibilidades de ser engolida. Se tal ocorrer só espero que, no que toca a Portugal, este “almoço” se inicie pelo local da governação, pois assim haverá sempre a hipótese da restante população escapar devido a alguma má digestão da pobre Via Láctea.
In Correio dos Açores