Saturday, August 11, 2007

OS MAL AGRADECIDOS

Caríssimo primeiro-ministro, cidadão engenheiro José Sócrates – peço imensa desculpa se me enganei no título, mas com toda a confusão surgida à volta deste assunto e com a falta de esclarecimento, que espero ocorra pelo menos na próxima década do presente século, sinto-me inseguro como devo proceder – quero participar-lhe o meu mais vivo repúdio pelo modo como o vêem tratando nos últimos meses.
Ele são altos gritos, comentários em surdina, gestos menos bonitos, assobios de protesto e até esgares do mais puro e profundo desprezo, os quais “contracenam” com as outras vozes menos gritadas quase melodiosas, gestos de amizade, assobios de apoio e olhares benevolentes de apoio dos seus já poucos mas “eternos” (pelo menos enquanto tiver poder e/ou não surgir uma alternativa válida no partido), cegos, surdos e mudos, quais macacos, seguidores.
Todos e tudo serve para destabilizar a governação nacional socialista, que protagoniza neste momento, tendo em vista o engrandecimento do país e o bem-estar deste tão mal agradecido, mas humilde, povo.
Não faltavam mesmo as sondagens, negativas ainda por cima, que surgem e que permitem concluir, de certo concorda comigo, que o povo é na realidade muito mal agradecido e que está insatisfeito.
Brada aos céus, como se usa dizer.
Insatisfeitos com o primeiro-ministro e com os governantes seus ministros, que tal como a grande maioria dos trabalhadores portugueses, neste momento “trabalham a contrato por tempo incerto”, podendo de um momento para o outro perder o “tacho”..
Como é possível ser-se tão ingrato e não perceber que estes senhores, que trabalham imenso para o nosso bem-estar, na sua quase totalidade aceitam estes lugares – em que são “obrigados” a receberem belíssimos salários, usarem carros topo de gama, incluindo condutor e muitas mais benesses – em prejuízo dos ordenados e benesses que tinham na sua vida não governativa.
São muitos os que até nos esclarecem publicamente que “são prejudicados por aceitarem os cargos”, outros que os “aceitaram pelo povo” e sentido de “dever público”.
Daí vê-los tristes e trôpegos de pensamentos, não sendo difícil encontrar alguns tantos que quase só dizem asneiras, em espaço nacional e internacional e a ritmo acelerado, assumindo até comparativamente com o que lhes vai dentro das respectivas “cabecinhas” pensadoras, por exemplo, que a sul do Tejo só há deserto.
Então não têm v. exa. e todas as excelências que o rodeiam – neste momento relembro o programa televisivo que nos dava o essencial do ridículo que é a governação e que dava pelo nome de “Sim Senhor Ministro” – trabalhado, por exemplo, a saúde (refiro ao sector e não às corriditas que v. exa. dá em território estrangeiro e que surgem na comunicação social, tendo por fim mostrar um governante de tipo atlético e como se isso fosse extremamente importante), aumentando a probabilidade dos cidadãos morrerem à procura de um sítio para receberem ajuda médica, de se ter um parto dentro de uma ambulância que percorre quilómetros antes de encontrar o destino e em que ocorrendo o parto na ambulância possibilita que os progenitores da criança lhe atribuam o nome do bombeiro parteiro.
Possibilitando a incomensurável alegria aos cidadãos, apesar de terem descontado durante décadas para aquilo que vulgarmente se define como reforma, de irem trabalhar até aos 65 anos e terem uma menor probabilidade de gozarem o seu merecido período de reforma, porque o espaço temporal entre esta e a ocorrência do seu falecimento é menor, ficando apenas com a alegria defunta de terem contribuído para o equilíbrio das contas da segurança nacional.
Como é possível que os mal agradecidos dos meus concidadãos não percebam que o controlo feito através da denúncia de colegas – caso do professor do norte do país que contou uma anedota acerca do primeiro-ministro – ou mesmo a exoneração da directora de um centro de saúde que se recusou a obedecer a um governante e não retirou um cartaz, afixado por um colega que assumiu tal facto, e a substituição da mesma por um membro do partido socialista, nada tem de negativo e foram sempre atitudes que deram resultados positivos quer a quem denuncia quer para quem governa.
Ou mesmo as greves que ocorrem, de um modo tal vilmente propostas como protestos a esta vossa formidável governação, só podem vir de mal agradecidos que não conseguem vislumbrar ou mesmo sentir o quão agradável é trabalhar sem futuro, ser objecto de avaliação sem qualquer sentido ou mesmo perder regalias obtidas no passado.
A “trabalheira” que foi elaborar um programa governativo na altura das eleições e após a concretização da vitória ter de se alterar o mesmo, aumentando impostos logo imediatamente em total desacordo com aquilo que se havia proposto antes e “apenas” para cativar eleitores.
Mas os mal agradecidos deste país nem assumem que os nossos governantes de um modo estóico constituem listas publicas de devedores ao fisco e à segurança social, quando os valores em divida são volumosos, e que apesar do esforço a lista continua com milhões de euros em divida (o que dá ideia de que as pessoas referidas não se interessam por tal), sendo a denominada arraia-miúda, com dívidas de dezenas de euros, que é ameaçada de penhoras e acaba por as pagar.
O esforço demonstrado pelos governantes, sempre a nosso favor, para encontrarem uma solução para aquilo que haviam já decidido e que várias vezes tornaram público relativamente ao novo aeroporto é digno do maior respeito.
Foi a OTA, é +1 ou +2, é um qualquer cidadão nacional que dá mais um palpite de localizar o aeroporto noutro local e cá temos, não só um governo totalmente baralhado de ideias e de atitudes, mas igualmente que este impasse só demonstra a preocupação pelo bem-estar dos mal-agradecidos cidadãos nacionais, acreditando eu que a resolução final será a OTA +0
In Correio dos Açores

TUDO BEM

A política, como é normal nos meses de Agosto de cada ano, “vai a banhos” e pouco ou nada existe para falar/escrever sobre ela nesta altura.
Tirando um pouco da luta entre “galos” da mesma capoeira, caso de Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, que se entretêm a enviar mensagens por telemóvel para os seus potenciais apoiantes ou alguma noticia que surge na comunicação social proveniente de algum ministro de um governo nacional, que vive sem um primeiro-ministro fundamentalmente dedicado à causa europeia, tudo está adormecido neste país.
Os portugueses esses assistem, em sofrimento de que se já habituaram, à antecipação nacional, por parte das instituições de crédito, do aumento da taxa de juro prevista a nível europeu lá para Setembro/Outubro.
Seguem o velhíssimo slogan nacional de “faça férias cá dentro” e lá se vão entretendo entre idas diárias à praia, variando um pouco com algum piquenique numa qualquer mata ou “conjunto de arvores” numa qualquer berma de estrada e tentam recuperar forças e ânimos para mais um ano que se segue, claro que na perspectiva de que a situação se poderá alterar para melhor.
A esperança reside no facto de alguns governantes darem sinais de que a situação se encontra em melhoria e que não serão exigidos mais esforços aos portugueses.
Sinceramente não consigo perceber como se pode exigir mais esforços de quem já não tem a segurança no emprego que tinha, vivendo com o espectro constante do desemprego, de quem já não tem salário que consiga abranger as exigências bancárias mensais e fiscais que lhe são impostas para além de ter de fazer frente à alimentação e transporte de quem vive na mesma família, de quem necessita de cuidados de saúde e vê-os “fugir” para longe dos seus locais de residência, causando custos adicionais em deslocação e na própria oportunidade de assistência ou de quem tem responsabilidade e gosto de que os seus dependentes estudem e vê aproximar-se o mês em que é necessário comprar livros escolares e demais material, bastas vezes a multiplicar pelo número de filhos.
De positivo apenas o facto de se conseguir viver o dia a dia, sem muitas variações na rotina diária, com a sensação de que melhores dias virão pois aproxima-se, numa perspectiva de um ano, um período eleitoral em que todos sabemos, os políticos são hábeis em nos conseguir, ou pelo menos tentar, dar a volta e fazer esquecer as amarguras do passado recente e darem-nos a conhecer o bem que nos querem para o mandato seguinte.
A história repete-se em cada quadriénio e nós, de memória muito curta, lá vamos embarcando e providenciando o futuro dos nossos políticos.
No entretanto e na ausência de melhores noticias lá vamos sabendo que este ou aquele ministro passará alguns dias de férias em alguma parte turística do nosso país, com especial enfâse para a costa algarvia, ou mesmo que o senhor D. Duarte – neste momento estou todo curvado em esgar de vénia, como é conveniente ao evocar o nome de um pretendente ao trono nacional – apresentou duas queixas que mereceram, ao contrario das nossas, das entidades oficiais o imediato tratamento – nomeadamente a decisão de medir o nível de ruído – por não encontrar condições na Praia da Rocha, para a família real fazer “ó-ó”.
Coitadinho do “piqueno” que tanto contribui para o desenvolvimento nacional e bem-estar dos portugueses.
A nível regional dos Açores e considerando a benéfica ausência do “tonto” do pretendente ao trono nacional, o qual por vezes faz algumas aparições nas esplanadas locais, a situação é em tudo semelhante ao contexto nacional.
Algumas, mas pequenas, trocas de mensagens mais ou menos veementes, que nos permitem saber que o governo não vê com bons olhos a execução do parque de estacionamento junto às “suas” portas do mar; a afirmação, em resposta autárquica, de que este estará pronto oportunamente e que em nada obstará à inauguração das mesmas nas vésperas das próximas eleições regionais legislativas, em que Carlos César se assume, embora ainda muito superficialmente, como candidato à presidência do governo regional.
Ou ainda, embora a nível partidário, as prováveis eleições directas para encontrar um novo responsável regional para o tão gasto – de nada fazer de positivo e provavelmente apenas das suas numerosas visitas aos velhinhos e criancinhas da ilha Terceira – líder do principal partido da oposição que não merece ser tão mal tratado, tal como Carlos César que necessita de uma mais forte e coerente oposição para governar melhor.
Não fora o facto de alguns acontecimentos pontuais na vida regional açoriana e poder-se-ia afirmar que nada há de novo nesta região paradisíaca.
Tal é, por exemplo, o ocorrido e noticiado nas páginas deste mesmo jornal sobre o que se passou nas caldeiras das Furnas e que envolveu as filmagens da celebérrima telenovela, promovedora do turismo regional.
Por mero acaso e em virtude de querer fazer jus ao que vinha afirmando perante um pequeno grupo de amigos que se deslocaram a S. Miguel, vi-me na necessidade de ir às Furnas, de modo a preparar um dos nossos famosos cozidos nas caldeiras.
A ideia era de facto possibilitar a degustação do mesmo localmente mas sinceramente, não me pareceu muito condigno utilizar qualquer dos locais potenciados para a merenda, dada a imagem negativíssima que daí resultaria.
Optamos assim por “enterrar” a comidinha e aproveitar o “intervalo” de tempo da cozedura para irmos a banhos na maravilhosa praia da Vinha da Areia.
O “inferno” começou bem cedo e aquando do “enterro” do cozido, pois a zona estava vedadíssima por muitos agentes da autoridade que só a muito custo me deixaram, no intervalo de uma das numerosas filmagens, passar com o funcionário camarário e “acertar” com o cozido no buraco, não antes de recomendarem a mim e ao meu telemóvel o mais absoluto silêncio.
Ficou a esperança para os meus amigos, que me acompanhavam, e para tantos outros turistas reclamantes, que no “desenterro” da refeição fosse possível desfrutar da beleza única que são as manifestações de vulcanismos, como elas existem nas Furnas.
De volta e na hora marcada a surpresa foi ainda maior.
Não só permaneciam no local os mesmo agentes da autoridade que vinham a manter o local “fechado” desde manhã, como estavam “à boca de cena” (leia-se entrada de acesso para a zona das caldeiras) três viaturas da polícia com três agentes em cada uma, dois carros de bombeiros e duas ambulâncias com o respectivo pessoal.
Entre os “palpavos” regionais/locais que estavam entusiasmadíssimos a “ver” a filmagem de uma distância de, sei lá, quinhentos metros e numa esquina que nada se via, estavam não só os meus amigos mas numerosos irritadíssimos turistas que iam, digo bem “iam”, ver um dos mais famosos cartazes turísticos regionais.
O que sucedeu? Nada para alem de uma espera de bastante tempo, em que se salvou a Rita, uma das meninas da produção, que nos mantinha com o animo elevado, afirmando que só faltavam dez minutos, mais cinco, mais… e que nos ia amiúde pedindo desculpas e o facto da “morte” do Zeca Medeiros ser feita com um boneco.
Claro que ninguém conseguiu ter acesso ao local e tirar as celebres fotos de família junto ao cozido que triunfalmente saiu do “forno” térreo, tendo o mesmo cozido demais e por pouco não potenciado batatas, doces e inglesas, a uma sopa.
Belíssima imagem esta que se deu para os nosso visitantes nacionais e estrangeiros, quando de facto a ideia dos nossos responsáveis é fomentar o turismo regional.
In Correio dos Açores

32 ANOS

Depois de amanhã faz precisamente trinta e dois anos sobre a data em que, alguns de nós, fomos presenteados com um movimento denominado dos capitães e que permitiu se criassem expectativas sobre uma vida melhor para todos os portugueses e principalmente que se sentisse a liberdade nos mais diversos aspectos individuais e sociais.
Foi deste modo que nos deram a entender que estávamos a “entrar” num espaço temporal essencialmente democrático, embora tal estivesse associada à responsabilidade de cada um individualmente enquanto integrado em sociedade.
Pessoalmente assumo que o movimento teve por base a situação insuportável de mal-estar que se sentia na população portuguesa, principalmente aquela que vivia nos meios urbanos, em termos de reivindicação latente, a situação de guerra existente e a existência de uma classe social bastante favorecida, que de um modo mais ou menos ostensivo teimava em manter o conjunto de regalias de que beneficiava.
Daí que um movimento que se intitulava revolucionário e que pretendia alterar esta situação, fosse recebido de “braços abertos” despertando na população, de um modo geral, um sentido de simpatia, de aderência e de legitimidade.
É certo que o futuro dos governantes da altura era de um modo geral, muito pouco consistente em termos de continuação do regime, sendo previsível que mais tarde ou mais cedo se verificasse um movimento no sentido de alterar toda esta situação.
Fundamentalmente criando expectativas de evolução socio-económica e cultural à população portuguesa, foi de certo através da adesão que oportunamente ocorreu e o apoio da Europa Comunitária que conseguimos atingir alguns dos objectivos de que tanto carecíamos e desejávamos.
Connosco entrou a nossa Ibérica irmã – a Espanha – verificando-se no decurso do tempo que esta, embora partindo de uma “saída” do regime franquista mais tardia e de uma situação económica menos favorável, conseguiu crescer económica, social e culturalmente a um ritmo mais acelerado que o de Portugal.
Na minha opinião a rejeição do regime salazarista/marcelista representou o virar de página que quase todos nós merecíamos/queríamos.
A democracia tinha chegado e todos acreditávamos que a existir, seria consubstanciada num futuro mais verdadeiro, sem favoritismos, em que os melhores seriam considerados e em que não mais prevalecesse a situação de indivíduos integrados em grupos ou grupelhos – considerados estes quer a nível religioso quer desportivo quer político quer em outro qualquer aspecto - e os critérios oportunidade apenas se baseassem em elementos caracterizadores definidos através da qualidade nos mais diversos aspectos.
A realidade trouxe-nos no entanto algo extremamente diferente.
Aquela democracia que muitos de nós entendemos ser real, no verdadeiro sentido da palavra, tornou-se em algo vazio, com nuances acentuadíssimas de oportunismo e que deu origem à criação de novas elites.
Continua a não ser o mérito do individuo em si que prevalece para a ocupação de alguns – mas muitos - cargos políticos existentes.
É comum conhecerem-se casos de ocupação de cargos, aos mais diversos níveis de governação, em que a qualidade pessoal e profissional do indivíduo é preterida a favor de filiados e simpatizantes dos partidos ou mesmo de familiares ou amigos.
O oportunismo leva, nesta democracia, a que se favoreçam pessoas conseguindo-se “dar” o aspecto de que os muitos e diversos concursos para ocupação de postos de trabalho existentes, cumprem as regras mínimas de seriedade.
É uma verdadeira democracia “musculada” em que quem se manifesta contra determinadas situações, quer por escrito quer falando, e não entrando no “jogo” se sente preterido ou mesmo prosseguido, sendo o melhor que lhe pode acontecer o ser colocado numa “prateleira” mais ou menos dourada.
Prevalecem as situações, benéficas a quem governa e deseja continuar a deter este poder, de indivíduos que bastas vezes nem pertencendo aos quadros das instituições onde desempenham a sua (má) actividade profissional, são comummente identificados como capachos.
Os tais que não tendo onde “cair mortos”, muitas das vezes sem grandes qualificações literárias ou profissionais, vão “rezando” diariamente para que o seu “santo patrono” não caia em desgraça e lhes seja retirado o cargo e benesses de que desfrutam.
Mas reconhecendo o “serviço” prestado muitos deles beneficiam de entradas para os quadros das instituições ou empresas públicas e por lá ficam, andrajosamente andando ao sabor do momento e sem fazer ondas, não vão os colegas lembrarem-se do passado.
Depois é todo um conjunto de indivíduos que de modo atrevido se candidatam – ou melhor dizendo, “aceitam” a oportunidade de ocuparem cargos – concluindo-se posteriormente que no seu passado existe uma qualquer situação menos clara perante a justiça, quer a nível civil quer fiscal.
São as promessas eleitorais as quais após a “tomada” do poder, deixam de ter significado e se passa a actuar de modo totalmente contrário, deixando de se ter em consideração que foram os eleitores que levaram os eleitos ao poder, que tanto desejaram.
Por exemplo, deixam de ter sentido os aspectos sociais referenciados como carências existentes nas crianças e nos idosos.
Num povo em que o número de crianças é cada vez menor e o de idosos é cada vez mais elevado, o aspecto que sobressai como preocupação é cada vez mais o económico em detrimento do social.
No entanto o período de reforma de uma certa elite nacional é “atravessada” por chorudas reformas mensais, em detrimento de um grupo de idosos cada vez mais carente.
Os governantes dizem-se preocupados e recentemente afirmaram que vão actuar de modo a proporcionarem melhores condições de vida a esta gente, só que num período de dez anos.
Por outras palavras, dizem-nos que vão fazer tudo que devem fazer mas num prazo que eles próprios nem sabem se serão governo, embora o desejem para seu próprio bem.
Continuam as situações mais ou menos claras de viagens, faltas e ajudas de custo aos deputados fora da zona da cidade de Lisboa – quem os obrigou a candidatarem-se? Eu não fui! – jantares e comitivas, carros e pessoal de apoio em excesso – onde se encaixam os familiares, amigos e demais capachos – numerosas benesses, etc…
Continuam alguns cidadãos, quer por escrito quer verbalmente, a tentar mostrar publicamente que tudo isto em quase nada difere do que existia antes de Abril de 74, e que o “rei vai nu”.
Na realidade, não sendo motivo de prisão como no passado, tudo isto implica que mais ou menos se vai sofrendo o ostracismo de quem detém o poder.
Compreendo plenamente que muitos de nós, embora sentindo um enorme desejo de escrever ou falar, não o façam, tendo em atenção o seu próprio futuro ou dos seus familiares.
Por isso Abril foi algo que me deu enorme alegria ao ocorrer pelo que para mim representava em termos de futuro.
Abril é agora uma leve reminiscência da democracia que então eu assumia ir ser, fundamentalmente culpar dos “maus” governantes que estas três décadas permitiram que escolhêssemos.
Procura-se novo Abril.
In Correio dos Açores

OS ULTRAPERIFÉRICOS

Viver nos Açores é cada vez mais um acto de coragem.
São constantes os momentos em que sinto, pelos numerosos contactos com que as pessoas me beneficiam ao longo da semana quer por contacto quer por e-mail, que existe uma atitude de resignação e que se sente que nada há a fazer perante determinadas atitudes que os governantes, quer a nível nacional quer regional, assumem sempre na perspectiva de que é o melhor para todos nós cidadãos.
Felizmente que cada vez menos existem governantes, tal como Manuel Pinho fez no passado recente, que nos presenteiam com afirmações idiotas de já estarem a ver a luz ao fundo do túnel.
Não há luz ao fundo do túnel e muito menos existe qualquer túnel e tudo não passa de um conjunto de imagens idiotas com que nos pretendem presentear como se fossemos cidadãos que se enquadram no conjunto dos idiotas, que diga-se em abono da verdade e em minha opinião, são percentualmente muito mais representativos no grupo dos governantes e “anexos” do que no conjunto da população.
Situação semelhante é aquela do tabu.
Para mim os políticos quando não têm certezas e principalmente não sabem se devem ou não assumir compromissos eleitorais em futuro, bastas vezes porque não sabem se os resultados lhes serão favoráveis, arranjam um tabu.
Tal permite não só salvaguardarem-se de situações futuras mas igualmente verificar/confirmar quem são os outros “idiotas” que pretendem ser potenciais ocupantes dos cargos dirigentes.
Cavaco Silva criou no passado a figura do tabu, deu-lhe tempo para que ele existisse, conseguiu que se criasse a expectativa necessária e suficiente sobre o que poderia acontecer, fez “transpirar” a ideia de que todos necessitávamos da sua “imagem” e “presença”, para além da sua (duvidosa) capacidade, e o povo – que como multidão é sempre levado para onde os políticos os decidem levar – ficou “excitadíssimo” com o revelar do tabu, qual milagre, mesmo quando se verificou que o tabu não passava de uma simples decisão de candidatura e que numa maneira muito portuguesa a “montanha tinha parido um rato”.
O que quer dizer, por palavras muito simples, não saiu nada de jeito daquela boca, o que me parece se vem repetindo, nos últimos meses, com muita frequência.
O povo esse, apesar de se sentir defraudado pela novidade que o não foi, lá foi assumindo que existia razão para se considerar a necessidade da existência de um tabu, dando razão que é mais fácil serem outros a pensar do que pensar por si próprio.
Surgiu agora na comunicação social áudio visual regional aquando da deslocação de Carlos César aos países do continente norte-americano onde a diáspora açoriana se fixou, a ideia de que também ele estava a criar um tabu sobre a sua possível ou não decisão de se candidatar novamente à presidência do governo regional.
Não sei se sim ou não está criado o tabu, nem mesmo sei se aquilo que ele disse era para ser tabu ou foi “lido” assim.
Pergunto-me para quê um tabu quando tudo aponta para que no momento em que irá ocorrer essa nova hipótese de eleição, ainda é possível que a oposição se encontre à procura de um líder credível, de um conjunto credível de elementos da oposição que o apõem e que efectivamente para além de conhecerem aprofundadamente os “dossiers” de trabalho a debater são capazes de apresentar as soluções credíveis para resolver os problemas – e eles são muitos e talvez em futuro sejam imensos – que Carlos César e os seus “pares” não conseguiram resolver em três mandatos.
Para mim um verdadeiro tabu a “criar”, assumindo a qualidade da oposição regional que se auto-ilude sobre a melhoria da mesma, poderá ser sobre o facto da possível candidatura às eleições legislativas regionais de 2024, por parte de Carlos César.
Onde está esta oposição?
Veja-se o que se passa na Região, em questões de aumentos generalizado de preços, nomeadamente no que respeita os produtos energéticos e consequentemente o aumento dos custos induzidos na produção dos mais diversos produtos, no que respeitam as enormes dificuldades com que as famílias se debatem no seu dia a dia e que “prometem” serem cada vez piores, aos já existentes despedimentos, aos aumentos dos problemas na saúde e ao caos existente no ensino, considerado este a todos os níveis, aos problemas relacionados com as pensões de reforma reduzidas pela imposição de um imposto, à situação dos idosos e de todos os indigentes existentes na sociedade.
Como, com que fundamento, com que convicção e, embora exista uma maioria absoluta “sentada” na cadeira do poder, com que credibilidade nos quer fazer acreditar que esta a dar o seu melhor, claro que em termos de acção politica, por todos nós?
Não chega escrever semanalmente uma coluna num jornal diário e aparecer quase que “por engano” num qualquer telejornal.
E o próprio governo regional, que fazendo ouvidos moucos e assobiando para o ar, vai de nãos nos bolsos e olhando apaticamente para tudo e todos os que o rodeiam ou que com ele se cruzam, admitindo custos e mais custos insuportáveis para um cidadão que vive naquilo que eles, os políticos, admitem ser uma região ultraperiférica insular europeia?
Não deveriam o governo e a oposição, admitindo que tanto reivindicam perante a comunidade europeia utilizando o conceito de região ultraperiférica insular, reivindicar com os mesmos argumentos ou outros ainda mais fortes, que possuindo nós tais características e sendo parte integrante do todo nacional, merecemos ser tratados como tal
Tomemos o último dos aumentos anunciados, embora assuma que muitos mais nos serão anunciados como presente da época natalícia.
A TAP – a tal companhia que quando alguns anos atrás operava em monopólio na Região afirmava a “pés juntos” que a exploração da linha não era rentável, mas que nunca a quis perder nem abandonar – decidiu aplicar um aumento às tarifas de cerca de 11% - relacionado com o aumento verificado no custo dos combustíveis – passando a passagem aérea de ida e volta entre Lisboa e Ponta Delgada a custar muito perto de duzentos e cinquenta euros.
A SATA internacional, aproveitando a boleia – característica possivelmente aprendida com o governo regional que aproveita as “boleias” dadas pela República – vai também aumentar o custo das suas tarifas no mesmo percurso e pelos mesmos motivos.
Apesar dos pedidos da comunicação social esta empresa regional nem se dignou justificar o motivo de tal aumento, seguindo as “passadas” dadas pelos próprios governantes regionais.
Para mim, enquanto residente nos Açores, os aviões funcionam como um qualquer carro, mesmo dos da classe mais económica, para um qualquer transmontano, embora estes tenham outros meios de deslocação que nos são vedados enquanto insulares.
Os açorianos não podem “meter” cinco pessoas numa viagem à “capital” e num qualquer veículo automóvel dividindo o custo por cinco; os açorianos têm de “entrar” para um meio de deslocação do tipo aéreo, pois não existe outro qualquer processo de fazer este percurso, e pagar por cinco pessoas cerca de mil e duzentos euros.
Com que direito é vedado aos açorianos, principalmente aos mais jovens e/ou aqueles com cada vez menos recursos, o conhecimento por exemplo, da capital daquela que identificam como sua pátria, dos seus monumentos que lhe podem mostrar a grandeza que Portugal já teve (e infelizmente já nem pretensões tem de tornar a ter), o acesso à cultura, etc…
Não passando de portugueses de segunda ou mesmo de terceira para o chamado antigo regime – antes de Abril de 1974 – em que quase nem se conheciam as coordenadas geográficas da localização do arquipélago (reza a historia que certo ministro salazarista mandou as tropas se deslocarem entre ilhas por via ordinária, leia-se a pé e possivelmente na maré baixa), somos agora os “ultraperiféricozinhos” que apenas servem para que os governos regional e central consigam “cravar” mais uns trocos para “exibirem” obras de fachada que lhes permitem ganhar eleições futuras.
In Correio dos Açores

GEOTERMI(D)A

Durante quase quatro décadas os habitantes da Região criaram expectativas uma vezes devidamente fundamentadas, pelo que na ocasião vinha ocorrendo e era transmitido a público pelas entidades competentes, outras infundadas pelos resultados que entretanto eram obtidos e contradiziam todos os objectivos que nos propuseram atingir.
Ao longo dos anos passou-se de uma época de prospecção para outras identificada com a fase experimental – com a perfuração de poços, com interferência de produção entre si, a rondarem os oitocentos metros e com a montagem de uma central cuja produção anual pouco significava na produção total da ilha – e finalmente para uma fase pré-industrial e industrial, com a perfuração do primeiro furo a mais de 1500 metros e posteriormente com outras perfurações e instalação de uma central modelar que teria uma capacidade de cerca de 13 MW, servida por quatro furos.
No decurso do tempo os objectivos inicialmente apontados não foram atingidos como é, por exemplo, neste momento o caso da potência disponível que por dificuldades de produção de geofluído ser só de 10 MW.
Invariavelmente surgem notícias na comunicação social que nos permitem afirmar que tudo vai mau no reino da geotermia.
As últimas noticias referiam haver uma situação menos “amistosa” opondo a SOGEO – empresa regional destinada à produção de energia eléctrica através dos fluidos geotérmicos – não só à empresa que tinha como incumbência a perfuração de alguns poços como igualmente à empresa israelita fornecedora dos grupos geradores.
Não consigo afirmar que são estes maus relacionamentos entre empresas que estão na origem do que se passa na produção da empresa geotérmica.
O certo é que contrariamente a todas as expectativas que criaram aos habitantes da Região e mais especificamente aos micaelenses, os valores de produção de energia eléctrica tendo por base a geotermia têm vindo a decrescer desde o início do novo século.
Foram cinco anos em que a produção de energia baixou de cerca de 105 GWh no ano de 2001 para um valor estimado de cerca de 75 GWh em Dezembro do ano que findou, o que representa uma quebra de cerca de 29% do rendimento da produção das centrais.
Dito de outro modo: em 2001 a produção de energia eléctrica de origem geotérmica representava, relativamente à produção total energética em S. Miguel, cerca de 34,4% tendo este valor passado para cerca de 18,5% em 2005.
Explicações para tal? Nenhumas!
Os habitantes desta Região não devem ser “dignos” de tal justificação.
É no entanto interessante esclarecer que embora a SOGEO seja uma empresa que desenvolve a sua actividade no âmbito das empresas privadas, teve na sua formação como sócios pelo menos três empresas públicas regionais as quais detinham a grande maioria do capital social da mesma, se não me falha a memória cerca de 80%.
Este capital, parte do capital do Consórcio Geotérmico dos Açores, eram dinheiros públicos “investidos” no projecto pelo Governo Regional de então, consequentemente de todos aqueles que como seu trabalho contribuíam para o erário público.
De qualquer maneira nem antes nem depois da privatização das empresas públicas “gestoras” do dinheiro de todos nós, no capital da empresa de geotermia, ouvimos ou lemos qualquer tipo de justificação para o que vinha ocorrendo.
Muito menos nos últimos cinco anos em que a situação, pelo menos em termos de produção, piorou substancialmente.
Sem qualquer efeito têm vários articulistas e por variadíssimas vezes, neste jornal diário, chamado a atenção que é necessário dar a conhecer o que se passa com a produção geotérmica de electricidade, no entanto têm sido feitos “ouvidos de mercador”, como se usa dizer.
Não merecemos ou quem pode na realidade actual perante esta situação, não está de facto interessado ou pior não consegue aperceber-se de todo um conjunto de implicações que esta cada vez maior “ausência” de produção significa para a Região.
Para que não fiquem dúvidas focarei a minha atenção em apenas quatro aspectos de muitos outros possíveis de identificar:
1. quando a produção de electricidade não é feita através dos fluidos geotérmicos, e como não se consegue no “imediato” disponibilizar mais produção através de outras energias de tipo renovável, esta é feita através da utilização de combustíveis do tipo fuelóleo e/ou gasóleo;
2. a produção através destes tipos de combustíveis agrava, pela sua aquisição, o deficite da nossa balança de pagamentos correspondente à importação destes derivados do petróleo;
3. este custo, inerente à aquisição de derivados do petróleo, é tanto mais gravoso para a Região quanto a situação internacional se deteriora e os preços dos mesmos tendem a crescer, quase de modo incontrolável, como se tem verificado nos últimos anos;
4. os impactes ambientais provocados pela utilização dos derivados do petróleo na substituição da produção de electricidade de origem geotérmica que não é efectuada, são sobremaneira muito mais elevados e gravosos para a Região, devendo mesmo se de considerar que se pretende manter o espaço insular o mais perto do lema “onde a natureza ainda existe” tendo em vista fomentar o turismo um dos suportes ao tão desejado desenvolvimento regional.
Seria interessante para além de tudo, que nos conseguissem justificar perante todo o investimento efectuado na última década e meia, qual a razão porque em certos documentos oficiais, por exemplo a produção geotérmica no total aparece com tendência crescente até 2007 – em parte pela entrada em funcionamento da central do Pico Vermelho – e a partir desse ano se prevêem produções de variações negativas de tal modo que o decréscimo entre 2007 e 2010 está previsto como sendo novamente de cerca de 22%.
Os responsáveis regionais devem assumir que estes assuntos, pois mais difícil que seja, necessitam de ser encarados de frente e discutidos publicamente, encontrando os pontos fortes e fracos dos projectos e identificando de um modo definitivo quem pode ou não pode participar nos mesmos e se caso for, quem deve ser deles afastado, de modo a que o futuro seja muito melhor para todos nós.

No momento em que se assume que a geotermia e consequente produção de electricidade através deste tipo de energia renovável será dentro em breve uma realidade na ilha Terceira, tenha-se pelo menos a coragem de identificar e analisar os erros ocorridos no projecto micaelense de modo que melhor se concretize o da Terceira.
In Correio dos Açores

A GRANDE FARRA

A semana que decorreu foi fértil em acontecimentos ao nível de decisões governativas que me levam a acreditar que, em apenas cinco dias úteis, seria impossível um conjunto de pessoas tomarem tantas decisões que levam a acreditar que a frase dos celebérrimos livros do Asterix deve estar na moda e que refere “Estes Romanos/Governantes devem estar loucos!”
Primeiro é a decisão - que assumo Carlos César deve considerar que é muito oportuna e coerente, pois caso contrário não se lembraria de tal e nem a apresentaria por vergonha – de levar ao parlamento regional a possibilidade dos reformados da função pública tornarem a exercer, na mesma, uma actividade remunerada.
Na realidade e ao contrário do seu padrinho, José Sócrates que tenta “encurtar” os efectivos da função pública, Carlos César quer possibilitar que os reformados calculo que regionais, possivelmente com provas dadas, mas não se sabendo onde e como, venham a “trabalhar” na mesma função pública.
Deduzo eu que esta será mais uma maneira “encapotada” de pagar serviços passados prestados no âmbito da politica e mais uma vez, à sobra de uma democracia de sabor parlamentar maioritário e sobremaneira musculada, contribuir para maiores custos no orçamento e impossibilitar que tantos jovens, que se encontram ávidos de mostrar o que valem e que podem contribuir para o desenvolvimento sustentado regional de modo mais actual, venham a ser preteridos em favor de outros, que pese embora tenham saber acumulado, muitas vezes têm perspectivas/métodos de trabalho já ultrapassados.
Não mereceram os jovens o direito de provarem que conseguem, tal como fizeram a seu tempo os reformados que César quer favorecer, ser óptimos profissionais que contribuirão para o enriquecimento futuro da Região.
Será que César se esqueceu que a alteração que se veio a verificar na idade de reforma na função pública originou uma autêntica “brigada de reumático” cheia de anos de defeitos ao nível de comportamento profissional e social, dando agora origem a uma segunda “brigada de reumático” constituída por privilegiados que possivelmente desempenharam ou mesmo desempenham actividades politico-patidárias, que os elege directamente para serem classificados como reformados/activos.
Já nada me surpreende, muito menos depois de ver que em politica existem lugares públicos e cargos “talhados” a rigor para seguidores e gente de língua de fora cuja função é dizer “sim” e “lamber botas” sem bastas vezes terem qualquer tipo de atributo, quanto mais profissional, para ocuparem lugares que por direito de qualidade deveriam ser de outros.
Pobre democracia que, de lhe ser possibilitada a existência como maioria absoluta, é tão mal tratada e vilipendiada.
Por outro lado fomos confrontados esta semana com uma decisão - que assumo ser fundamental para o desenvolvimento sustentado da Região, a qual infelizmente alguns governantes parecem querer transformar em couto privado de caça – e que teve origem no secretário regional da agricultura e florestas de conceder um subsídio a fundo perdido – leia-se “nunca mais tal dinheirinho vai entrar nos “cofres” regionais – a um clube de basquetebol da ilha Terceira, no valor de 100 mil euros.
Justificando a importância de tal decisão o governante é peremptório afirmando que o clube irá por este meio “realizar uma campanha de promoção dos produtos agro-alimentares regionais”.
Boa!! Suponho que esta promoção será a nível do País e custa-me a identificar quais são os produtos regionais que irão ser promovidos e mais me custa admitir que estes existirão em qualidade e/ou quantidade para serem promovidos.
A partir de agora não se admirem de ver que o clube terceirense de basquetebol passe a jogar com uma melancia regional, em vez de bola, e a usar um caixote da tetrapack de leite meio-gordo regional, em vez de camisola.
Gradualmente o ridículo vai atingindo todos os membros do executivo, sempre…mas sempre tendo por suporte a maioria absoluta que tudo permite, nomeadamente que nós os cidadãos nos permitamos rir de ver como nos querem fazer passar por tolos, mas não conseguem.
Só que a politica já cansa de tal maneira – ainda mais com decisões deste tipo – que já nem conseguimos reagir a decisões tão importantes.
Resta acrescentar que o subsídio agora atribuído junta-se a outros que os clubes desportivos, que representam a Região em competições nacionais, têm direito e que se encontra devidamente regulamentado, sendo que para tal devem usar a marca Açores nas camisolas.
Duplo subsidio para uma dupla promoção regional feita pelos mesmos intervenientes?
Um outro caso tem a ver com o insucesso escolar.
Também esta semana foi assunto “quente” a recuperação que se fez sentir nos últimos dois anos no que respeita ao insucesso escolar, cuja taxa passou de cerca de trinta para nove porcento.
Cada vez mais considero que existem pessoas que pensam de noite, executam de dia e a obra realiza-se.
De tanto pensarem e apregoarem que fazem até acreditam que ela se realizou e de repetirem tanto o que todos sabemos não ser verdade, acreditam serem excepção à regra dos humanos e que realizam “obra”.
Olham-se ao espelho e nem acreditam no que vêm.
Por isso insistem, por isso deturpam e admitindo critérios, que mais ninguém consegue compreender, afirmam que estamos melhores posicionados a nível nacional e comunitário e criando uma mancha negra lá vão afirmando que os nossos alunos estão mais qualificados em conhecimento académico e que o consequente insucesso escolar está a “ir por água a baixo”.
Pobre de quem não vê e como se usa dizer entre nós portugueses “mais cego é aquele que não quer ver”, pois tapar o sol com a peneira não invalida que este nos continue a atingir.
Embora de certo muitos outros casos existam, fiquei bastante “feliz” por saber que as minhas contribuições anuais para o chamado banco alimentar se podem transformar numa autêntica “mistela” que é posteriormente atribuída a quem carece de alimentos.
Como é possível, a ser verdade e acredito que o seja, que famílias a quem foram atribuídos alimentos os recebam deteriorados e que quem os irá consumir, nomeadamente crianças de tenra idade, estejam sujeitas a irem parar aos hospitais porque os mesmos não se encontram em condições de serem consumidos?
Se não existem locais para armazenar os produtos nas devidas condições, o governo tem a obrigação de os criar – nem mesmo que o secretário regional da agricultura tenha de dar um subsidio à presidência do governo, em vez de o dar ao Lusitânia – pois a enorme quantidade de produtos recolhidos resulta na sua grande maioria de sacrifícios de uma população, principalmente de classe média, já de muito sacrificada com impostos e que não vendo resultados positivos das suas generosas e abnegadas acções, pode muito bem deixar de as fazer.
Até porque, quanto a mim, é ao Estado e neste caso mais directo ao governo regional que cabe a obrigação de criara condições para que os mais necessitados tenham os mínimos de condições de vida, claro que tudo isto tendo por base o dinheiro contributivo recebido dos cidadãos.
Incrível como a bagunça é tão grande e a grande farra se acentua ao passar do tempo!
In Correio dos Açores

FILOSOCRATICES

O nosso primeiro-ministro, José Sócrates, mostrando a afinidade que tem em termos intelectuais com o filósofo e pensador Sócrates – o da antiguidade e que vem de longa data nos manuais pelos quais muitos de nós estudamos – apresentou-se em público e indicou como sectores fundamentais ao desenvolvimento do nosso país, o turismo e a energia.
Facto que até parecia a grande maioria dos portugueses desconhecer e que se tornou uma realidade porque teve origem em Sócrates.
Extraordinário como estes dois sectores de actividade se tornam peças fundamentais para o desenvolvimento só porque o nosso primeiro-ministro referiu serem as bases do nosso futuro bem-estar social e económico.
Poder-lhe-ia ter dado para pior!!
Cavaco Silva quando era primeiro-ministro decidiu, ao que suponho após ter consultado os seus oráculos/assessores, afirmar numa televisão pública que o mercado bolsista estava muito inflacionado em termos de cotações das acções e de uma hora para a outra o mercado ressentiu-se, fazendo-se uma correcção ao longo dos dias imediatos, tendo igualmente ocorrido a perda de muitas poupanças de pequenos aforradores que viviam um pouco mais desafogadamente com os rendimentos “fáceis” que provinham das suas acções sobrevalorizadas.
O poder e a maneira como é utilizado, para o bem e para o mal, por um governante é sobremaneira importante, pois pode marcar o ritmo e o modo como um país se desenvolve.
Só que neste caso, em que se assume serem os sectores do turismo e da energia as bases do progresso, não se trata mais do que uma mera repetição do que tem sido afirmado no passado, pelo menos a espaços temporais de acordo com as necessidades.
O turismo, em minha opinião, beneficiou durante as últimas décadas de um “mutismo” completo por parte das autoridades, que apenas se deram ao trabalho de encaminhar alguns subsídios concedidos através de programas, na sua maioria de origem comunitária, para quem os solicitava.
Não me parece que tenha existido uma verdadeira preocupação com um desenvolvimento sustentado do interior nacional, baseado num verdadeiro programa de ordenamento do território tendo por base, por exemplo, a fixação das populações, o desenvolvimento das cidades interiores ou mesmo das actividades ligadas aos serviços.
Esse papel, quanto a mim, foi em grande parte desenvolvido pelas diversas instituições de ensino superior – caso das universidades e politécnicos – que permitiram uma maior qualificação das populações jovens, as quais não se fixaram na sua grande maioria no interior por não haver serviços ou indústrias onde desenvolverem a sua actividade profissional.
Romanticamente levou-se os habitantes do interior português a criarem espaços de turismo rural e habitacional, que de certa maneira e na sua maior parte não são mais do que meios de subsistência de quem os detém, advindo daí um rendimento extra à sua actividade laboral ou em muitos casos servindo como complemento de uma reforma.
O modo como o turismo é referido pelas entidades governamentais, neste momento, parece ser uma tentativa de encontrar “locais” onde colocar jovens na actividade laboral e justificar assim ter-se encontrado, desta maneira, o meio de cumprir a promessa de campanha eleitoral de criar uns milhares de postos de trabalho.
Só que, e aqui entra o outro sector de actividade em que Sócrates tenta basear todo o futuro desenvolvimento nacional, dado que o turismo depende enormemente do petróleo.
“Constipações” nos países produtores do médio-oriente – que se podem traduzir pelas constantes e mais ou menos graves crises políticas aí existentes, e entre eles e os Senhores Bush ou Blair – ou medidas levadas a efeito através da redução nos valores da produção pelo cartel da OPEP, são sem dúvida factores incontroláveis pelo Senhor Sócrates e que afectam sobremaneira os fluxos turísticos.
O petróleo ao atingir um valor da ordem dos 60 dólares por barril no decurso da última semana mostra que o seu comportamento, caso se mantenham as condições até agora surgidas (condição ceteris paribus, como se usa dizer no meu ambiente de trabalho), se manterá com tendência crescente podendo, na minha modesta opinião, situar-se entre os 90 e os 100 dólares por barril, no decurso do mês de Dezembro do corrente ano.
Neste momento, pelo que a informação televisiva nos dá a conhecer, queixam-se tanto os que deveriam ir e os que vão de férias como aqueles que os deveriam receber na hotelaria ou na restauração.
Os preços sobem de uma maneira directamente proporcional ao aumento dos mesmos nos diversos produtos energéticos e claro criam-se, por exemplo, taxas adicionais sobre os valores das tarifas dos bilhetes de viagens aéreas, que já por si tinham sido aumentadas pela existência de taxas com origem no aumento do custo da segurança, como consequência do incremento de actos de terrorismo.
Claro que poderemos sempre ter em atenção políticas que nos levem a utilizar energias de tipo renovável e que aumentem a nossa capacidade de auto-sustentação energética, reduzindo em grande parte os custos inerentes à aquisição de produtos provenientes de países terceiros.
Mesmo assim e considere-se o que se está a passar este ano em Portugal, qualquer situação de seca que nos afecte, pese embora já se ter um Alqueva, ir-se-á reflectir na necessidade de aumentar a importação de produtos energéticos de tipo electricidade.
Não quero com isto afirmar que Sócrates e os seus muchachos-governantes não devam assumir que o desenvolvimento do país não passará pelo progresso que estará inerente aos sectores ligados ao turismo e energia, pura e simplesmente assumo que seria interessante e mais seguro atribuir importância a outros sectores, nomeadamente algumas actividades afectas ao sector industrial.
Não temos sido muito felizes nos últimos tempos – acredito mesmo que isto se aplica ao contexto dos estados-membros da comunidade europeia -- que de uma maneira displicente “olharam”, por exemplo, para os têxteis como um sector de actividade onde seria impossível termos revezes e de um momento para o outro nos vimos a braços com um novo tipo de “febre amarela” sem sabermos bem como iremos resolver tal.
Criamos, a nível comunitário e nacional, entraves à importação de produtos têxteis de origem chinesa e dá-me a sensação de que ficamos tranquilos por mais algum tempo.
Aguardo ansiosamente por ver quais irão ser as medidas a aplicar à importação dos “jipes” de origem chinesa e que entraram em território nacional para venda a preços baixíssimos, pondo em causa, necessariamente, as vendas do mesmo tipo de veículos das diversas marcas já representadas em Portugal.
Novas medidas de contenção irão surgir?
A menos que façamos como o presidente do Governo da Madeira que recentemente e numa decisão pouco lúcida do único neurónio existente no seu “imenso” espaço cerebral, ameaçou mandar todos os cidadãos/comerciantes de origem chinesa, estabelecidos na ilha, para fora desta.
Nesta eu não “embarco” e se não temos unhas, que venham outros e toquem a viola!
In Correio dos Açores